27 abril 2011

Luz e Vida

...Se a estrela não deve estar muito afastada do lugar da vida, também não pode estar muito próxima, pois não preencheria as condições da vida, pelo menos tal como a reconhecemos na biosfera terrestre, Suponhamos que essas condições estejam preenchidas. Produz-se então, um fenómeno que já caracterizamos do ponto de vista energético. A vida retarda a degradação da energia, utilizando certas radiações da estrela para as transformar em potencial químico. Este potencial químico restitui a energia calorífica da estrela nos fenómenos da respiração, isto é, da oxidação. É na medida em que esses fenómenos ocorrem, que surgem a consciência e o pensamento, como se fossem liberados ao mesmo tempo que a energia cativa da estrela. A Vida - se pudermos tomar como medida o que ela é na Terra - é comparada aos fenómenos de fluorescência. A biosfera restitui ao Cosmos a luz que ela retirou de sua  estrela, o Sol.
Mas essa luz deve ser entendida em todos os sentidos, como se a luz intelectual fosse sempre a par com a outra. Convém, aqui, sermos prudentes nas conclusões e não escorregarmos nos declives das deduções  fáceis. Não se pode negar, em todo caso, que a ciência atribui à luz uma participação cada vez mais considerável e um papel preponderante, não só na elaboração da vida, mas ainda nos fenómenos químicos. Isso não quer dizer, de modo algum, que o pensamento apenas seja uma forma de  de energia luminosa e um produto, como o vitríolo e o açúcar, tal como proclamava Taine e, após ele, os sábios materialistas do seu tempo. Mas isso traz um argumento a favor das hipóteses enunciadas pelos antigos "sábios" e que a ciência oficial abandonou há muito tempo. A ciência materialista imaginava o mundo como um conjunto de forças cegas onde brilhava, por uma espécie de excepção absolutamente inexplicável, a inteligência do homem (a consciência de sua própria fraqueza, como indicava Pascal), animal perdido em um insignificante planeta de um canto qualquer do universo. Um famoso pensamento de Pascal -"Mas a vantagem que o universo tem sobre ele (o homem), o universo nada sabe" -era retomado por esses sábios par combater o seu espiritualismo e recebia a seguinte interpretação: "O universo não pode conhecer sua vantagem porque é incapaz de conhecer alguma coisa, já que nada mais tem além do físico, químico e mecânico". Os Sábios antigos teriam respondido a tais afirmações como Platão e Aristóteles replicaram a Anaxágoras, que comparava o Sol a uma pedra ardente. Eles responderiam que o Homem não está isolado no universo. Teriam sustentado, ao contrário das afirmações de Descartes, que os animais não são máquinas e teriam relacionado o espírito do homem ao universo por intermédio dos animais, das plantas, e até mesmo dos próprios minerais. Essa crença não concorda muito mais, afinal, com a doutrina da evolução? "Os astros, dizia o douto Paracelso, respiram sua alma luminosa e atraem as irradiações uns dos outros". "A alma da Terra, presa às leis fatais da gravitação, desprende-se, especializando-se e passa pelos instintos dos animais para chegar a inteligência do homem, A parte cativa dessa alma é muda, mas ela conserva por escrito os segredos da Natureza, a parte livre não pode ler essa escritura fatal sem perder, instantaneamente, a liberdade. Apenas se pode passar da contemplação muda e vegetativa ao pensamento vivo e livre com a mudança de meio e de órgãos. Daí resulta o esquecimento que acompanha o nascimento e as vagas reminicências de nossa intuições doentias sempre análogas às visões de nossos êxtases e de nosso sonhos". Encontra-se nesse texto, não apenas a doutrina da evolução da espécies, mais ainda a teoria do Inconsciente colectivo, tão cara aos psicanalistas, e mesmo uma primeira ideia dos arquétipos do Dr. Jung. Essa concepção do universo, por mais discutível que seja. é, em todo caso mil vezes menos absurda que a dos materialistas que acreditam totalmente na evolução e não encontravam nenhuma ligação válida entre a inteligência do homem e do universo.
Seria essa, provavelmente, a linguagem que que Paracelso teria adoptado em relação a tais sábios. E mesmo ao que Pascal afirmava -"o universo poderia esmagar-me, mas ele não sabe" -Paracelso teria replicado: "e você, o que é que sabe?"
O texto acima é parte do capítulo VI do livro A  LINGUAGEM DAS CORES de René-Lucien Rosseau, obra premiada pela Socité des Gens de lettres de France, em 1959 - Editora Pensamento.
Para um banho gostoso, clique no título.

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