30 junho 2014

Aborto


Pintei meu quarto recentemente. Não fiz uma escolha demorada de tons, sabia que uma viga aparente rente ao teto deveria ser de cor diferente da parede para que posteriormente eu a valorize com a pintura de uma grega ou guirlanda, e este detalhe foi o único a ser idealizado, naturalmente desejei as paredes do pequeno aposento em branco e um teto ultra -mar, naturalmente...
Um bebê começa com a ideia de um bebê, se é desejado pela mulher. Se acontece uma gravidez indesejada, nem por isso, por não ter sido ideado, ele deixa de existir.
Tenho me deitado e apreciado a combinação dos tons, sinto que encontrei uma harmônica que remete a um repouso em segurança e o ambiente está equilibrado. Senão eu mudava, raspava e repintava.
Estamos nesta fase, em que lutamos tanto pelo direito de praticarmos o aborto, e ninguém menciona o quanto é violento para a mulher, o quanto é danoso para seu equilíbrio de ser racional.
Da janela do meu quarto vejo um cercadinho no quintal vizinho, repleto de galinhas saudáveis e bonitas e um galo completamente lindo e dourado se sobressai no movimento cotidiano das aves, ostentando uma coroa carmim brilhante e enorme.
Observar sua rotina me faz pensar na impermanência da vida; ô bicho sem futuro, sem eira nem beira é a galinha! Por mais bela, e quanto mais saudável e fértil, mais consumível!
Perguntei à vizinha qual é o objetivo da manutenção do galinheiro, informou-me que é para obtenção de ovos, para de vez em quando matar e comer alguma galinha. E assim, por motivos nutricionais para o homem, acabam-se as chances da descendência natural para o galo sultão, são assassinadas suas esposas e ninguém no mundo há de mover uma palha para alterar a sanha carnívora, ovovípara dos donos das galinhas.
Eu penso que o feminismo defender a legalização do aborto, mostra que o movimento não é racional. Tantas bandeiras levantadas pelo feminismo vão tão contra a condição natural feminina, que ao analisarmos friamente não podemos deixar de concluir que é um movimento irracional, isto sim.
Se eu fosse governante, sendo mulher não poderia lutar pela legalização do aborto, liberaria se fosse a vontade da maioria, mas meu trabalho seria focado na valorização da racionalidade feminina, na valorização da feminilidade da deusa. Uma deusa que é companheira, ou individual, mas que respeita seu corpo como a um templo sagrado em que se celebra a vida.
Qualquer pessoa deve ter a capacidade de entender que um bebê existe após a fecundação, não dali a alguns meses.
Penso que a mulher lutar pelo direito a abortar é um monstruoso equívoco, que a luta deve ser pelo direito que ela tem, de receber informações claras desde a infância, que permitam que ela planeje quem ela será desde criança, se será mãe, ou não. 
Assim, como as coisas estão sendo pleiteadas, parece que a gravidez é um ovo, e nós nos importamos tão pouco pelo valor da vida, quanto as galinhas. Será que quem luta tanto para abortar livremente tem a capacidade de sofrer pela morte de crianças ou jovens, ou não relaciona?
Será que para ter uma pintura linda no quarto eu abortaria uma gravidez que me impediria por questões monetárias, de tê-la?
Eu devo lutar pelo direito de matar uma criança que se forma em meu ventre porque quero fazer sexo sem ter o cuidado para que a fecundação não aconteça?
E se eu me cuido através de métodos anticoncepcionais, e ainda assim acontece por acidente uma gravidez indesejada, isso sinaliza que eu estou apta a dirigir o automóvel da minha sexualidade?
Legalizar o aborto quer dizer que os cientistas podem parar de tentar encontrar o método cem por cento ideal?
O sexo, sim, leva a procriação, se eu sei disso, praticá-lo por amor com os devidos cuidados não torna o prazer maior?
Eu sei que vivemos longe das condições ideais, as mulheres com menos condições de criar filhos ainda são as que mais engravidam, mas se tomarmos o caminho da banalização dos crimes contra a vida, um dia chegaremos às condições ideais? 
Esta eu respondo com segurança e tristeza: não.
 

05 junho 2014

Um pesadelo com Hannah Arendt

Hannah Arendt aprendeu com a mãe a emocionar-se 
Com a vida a filosofar-se 
Eu não apreendo com Hanna Arent
Que tinha boca e a cara amargas
Que tinha a vida amarga do amor pesado
E todos dizem que eu, por ser mulher, deveria 
curvar-me perante 
Ana Arendt
Em um mundo que premia a crueldade e a chama realidade
que forma círculos entorno de mitos e agrega peso aos conteúdos irreverentes. 
Muito pesado, o mundo de Hanna Arent
Que aos sete anos de idade consola os outros pela perda do próprio pai:
Homens morrem, é natural.
Até quando finjo que me importa, a opinião de Hanah Arendt 
não entra em mim
Não se acopla e eu me culpo: Me desculpas?
E ela escorrega como uma pedra pesada dos meus braços humanos, 
Hanna Arendt é o tipo de mulher que pesa para a vida de mulher que sou
E eu não a consigo carregar, nem ler, 
nem esculpir é possível, já que é fechada em si,
mas eu a aceito e assisto sua verdade, 
A verdade de Hannah Arent é tão bela sendo dela, mas
Deus me livre
de aprender a ser uma mulher de basalto - um monstro sagrado 

Esta noite sonhei que Hnnah Arendt era uma aranha preta com presas enormes
Estava encurralada com ela em um pequeno porão
Ela cravou as pinças no dorso da minha mão enquanto eu tentava afastá-la para proteger filhotes que ela perseguia. Mesmo assim ela feriu um.
Um mito...Annah Arendt - uma quimera!
Mas é claro que devemos ter medo de não gostar de Hannah Arend!

Esta foto foi feita por Satva Horaci, fui fotografada durante a realização de uma instalação na Bienal de São Paulo deste ano(2014, então), em um ciclo de palestras e atividades sobre as Bienais anteriores.