Escultura que fiz em 2009 - A coruja da Denise com Camille no ventre.
...Talvez, amigo Cristobal, nossa cultura e educação contemporânea tenham como resultado mais evidente a formção de indivíduos auto-suficientes. E talvez os vitoriosos neste sistema criem e tenham reforçada a imagem que não condiz com a realidade da vocação de seres gregários e animicamente carentes que temos, o pobre vivente tem tudo para ser, mas não é, e em conflito é agressivo. Acho que um bom tanto do conflito do ser desenganado pós moderno esta aí. É minha mãe que diz, ela diz que nem é para tentar esta bobagem de viver sozinho, que vira só em tristeza, rs,rs,rs...E me diga, mudando de assunto, o que achas? Quando eu era menina, tinha uns nove anos, na escola em que estudava distribuíram uma cartilha cujo título era “Nossa Ilha”, não era um livro como os que o governo distribuía, era uma cartilha do mesmo tamanho, mas não tinha capa dura e a impressão era colorida berrante como um show de bandeirinhas de festa de São João. A cartilha era para ser nosso livro de estudos daquele ano, contava a história de um lugar onde os personagens viviam com um sorriso arregaçado no rosto e cada um era dono de uma banca de determinado produto que ele mesmo produzia. Ali tudo de trocava e não havia moeda. Eu era pequena e adorei a idéia, mostrava toda noite para meus pais a evolução dos exercícios no comercio da Nossa Ilha. Um dia a diretora da escola entrou na sala de aula e recolheu a cartilha de todos que tinham levado, parecia que estava de luto, ou não sei o quê, mas estava de cara feia e havia uma sombra cobrindo a escola. A minha cartilha se salvou, havia deixado em casa e como eu já era admiradora de cores vibrantes, pensei:me salvei, salvei minha linda cartilha cheia de boas idéias e lindas figuras. Mas que, nada! Me levaram para secretaria e queriam que eu fosse em casa com um militar, um rapaz sério, buscá-la, vibrou uma conversa de adulto naquela sala, que não guardei pois não entendi. No final ficou assim, me deram uma cartinha e no dia seguinte que eu apresentasse a cartilha na entrada da escola. Dito e feito, entreguei a cartinha aos meus pais, tranqüila de que eles me ajudariam a salvar minha obra de arte preferida, mas nem piscaram, foi a primeira vez que os vi de acordo com algo que receberam escrito num papel da escola.
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