29 setembro 2015

Façanha é brotação

Eu estou sem meu computador, estar aqui sem enxergar no meu padrão estabelecido, em outro teclado, é uma façanha.
Façanha
Lasanha
lá fora, mato
Mata Atlântica
cercada por
Bilhões de humanos solenes
e ainda,céleres
enquanto
alguns sábios
e outros estudados comem lasanha na estação espacial,
alimentam-se ilhados monitorando câmeras
focadas na água salgada
Uma façanha seria fazer um mato!
Uma façanha...

13 setembro 2015

Cronos era um Coelho, mas Réia era uma Deusa

Desde aquela época, lutamos com os impulsos que nos aproximam dos instintos animais.
Tu sabes quando. Para cada um há uma "aquela época" bíblica, histórica, ou determinada pela trajetória pessoal, em que então aquela época é substituído por "aquela fase". Os que usam aquela fase como parâmetro, são mais focados em si mesmos e neste caso a vitória sobre o padrão pode ser mais facilmente obtida, uma vez que o que tem o poder de auto-crítica, é apto a vencer, ou ao menos não desistir de tentar superar-se.
Hoje, o coelho matou seus filhos. Eram quatro, e foi muito triste para  nós, descobrir que a coelha estivera prenhe e parira à noite, sem que déssemos pelo fato - nem gestação, nem parto.
Sermos surpreendidos por esta ocorrência natural que compreende o macho coelho matar a cria para induzir a coelha a entrar no cio novamente não diminui a surpresa e comoção ante o quadro horrendo que é encontrar os bichinhos mortos abaixo da grade da casa da mãe. 
Desde que descobrimos que a dupla de coelhas não era irmãs, e sim um casal, temos nos dividido na tarefa de guardar o coelho à noite no galpão e de dia, um dia soltar ele e outro, ela, que à noite fica sempre em sua casinha. 
Hoje era dia dela ficar solta. Ele, então, tiramos do galpão e colocamos na casinha, para mesmo preso, tomar sol.
Não percebemos que haviam cruzado no último mês, e em verdade, podemos jurar que não cruzaram, e aí está até onde podemos jurar pelas intenções e ações de outrem. 
Em algum momento terão estado juntos, e foi o que bastou para que hoje soframos este impacto de, ao soltar ela e prendê-lo em sua casinha, alguns minutos depois tenhamos encontrado os quatro filhotes mortos sob a grade. 
Camille e Joseph recolheram os filhotinhos, que Joseph encontrou e imaginou serem uma safra de camundongos que a gata Tai teria deixado sob a gaiola. 
Eu fui, trêmula, conferir e não percebi serem filhotes do casal que tanto amamos.  Foi Camille, quem os identificou, que os recolheu e para minha vergonha, eu passei tão mal que não pude ajudar em nada.
Decerto tenho servido para outras coisas, ou, se vós julgais que não sirvo, ainda assim, eu gostaria de permanecer viva, pois para mim e para ações que não pedem recolher mortos, eu sirvo.
Enquanto Camille recolhia os filhotes, três abaixo da gaiola e um dentro, atrás da caixinha onde a coelha dormia, Joseph prendia o coelho no galpão.
Eu sofria, e a coelha, observava de longe, mordiscando algumas folhas entre  relances de aparente interesse
Em verdade, minutos antes, logo após sair da casa ela tentou explicar alguma coisa, mas não esteve nem perto de protestar veementemente.
Agora que "tudo havia passado", ela não demonstrava nada além de apetite, devorando o repolho que foi a única coisa que ocorreu-me oferecer-lhe a guiza de calmante, que eu sim, precisava mais, aparente e intimamente.
Estas ocorrências que acabam assim, quando gentificamos nossos animaizinhos de estimação geram traumas e lembranças inesquecíveis.
Concluo que não temos condições de cuidar de um casal de coelhos, pois se nosso cuidado e esquemas mirabolantes para atender melhor deram nisso...
E se não podem nem se olhar, que engravidam, melhor será não torturá-los pela ansiedade do encontro impossível. 
Coloquei um à doação, mas o emocional à mil, a culpa a milhões me levam a concluir, que se não fui eficiente, quem deveria ir embora sou eu. 
Embora eu tenho cuidado bem dos meus filhos...
O vizinho, um criador experiente, um dia me ensinou; disse que quando a coelha fica prenhe, ela remove o pelo da barriga e constrói um ninho. Desta forma, quando descobrimos que eram um casal, não duas irmãs, vigiamos todos os dias a pança da fêmea, que está e esteve sempre peluda como quando era menina.
Foi uma fatalidade, e todos estamos chocados e tristes.
O mundo governado pelo instinto é muito cruel para o espirito que o observa.
Desta forma, como punir a corrupção que degenera relações, que torna os homens praticantes da ferocidade animal? 
O homem é condenável quando consciente de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus, entrega-se a corromper e se deixa corromper, porque tem a capacidade de observar e auto-criticar-se, mas e quando não o faz, quando suas escolhas nunca privilegiarão a visão espiritual que leva a moral e a ética, que o outro o puna, que a sociedade o julgue e condene. resulta em aprimoramento e regeneração, em evolução?  
Ou o guiado somente por instintos, verá unicamente a privação imposta, da descontinuação da vida no crime, da prisão e do castigo a ele imposto, não relacionando a causa em que atuou à consequência que sofre?
A coelha está pronta a copular novamente, o coelho não entende que para fazer sexo o mais rápido possível, o obstáculo que remove é a vida dos seus filhos.
Assim como no caso dos políticos corruptos, que parece que não relacionam a origem do seu poder, o contrato que assumem com o povo, a necessidade de trabalho pela melhoria da qualidade de vida do contratante. E estando no poder, tornando-se coelhos, deitam a eliminar o que for empecilho a uma animalidade que escondiam antes de serem eleitos.
Eu tenho a responsabilidade de impedir que o que nos tocou imensamente, hoje, ocorra novamente, porque está visto que o coelho nunca fingiu não ser coelho. Para isso terei que analisar meus sentimentos e desligar-me de um destes bichinhos aos quais venho dando tanto carinho e sentindo-me tão privilegiada, quando o retribuem com aconchego no meu colo, ou adormecem ao receber carinho nas orelhas, enquanto cozinho, desenho ou escrevo, e um deles, está sempre aos meus pés. 
Como é difícil escolher qual deles vai para doação, e ainda, ainda que o consigamos, será que será tão amado e bem cuidado quanto aqui, será que a pessoa que o levar entenderá que o motivo que faz com que não possamos ficar com os dois tem tantas facetas, será que não sentir-se-á tentada a livrar-se dele ou dela no primeiro momento de enfado?
Nâo. Não doaremos nenhum.