02 setembro 2013

A tia Luiza - Que Deus a Guarde!

A tia Luíza contava histórias - prêmio por bom comportamento -anunciava. Que nada! Contava porque era uma contadora nata. 
Havia uma sobre duas irmãs completamente diferentes. Uma menina, que ao abrir a boca soltava os mais cabeludos palavrões, só sabia responder ou se dirigir aos outros anexando um impropério a cada três palavras.
A outra era uma doce criatura que da gentileza era o modelo, delicada e terna. 
Eu recordo da tia Luíza contando histórias e meu coração sorri. 
Sobre estas duas irmãs, a história era longa, mas acabavam por receber a visita de uma anjo disfarçado, como cada uma interagiu com ele conforme sua vocação, e sendo este o anjo que distribuía justiça, condenou a boca-suja a um triste destino que só se reverteria diante do autêntico arrependimento - senão não era anjo e nem história para criança. 
A sina da moça com vocabulário tão pobre, era que a cada baixaria que ela tentasse pronunciar, ao invés de palavras saltariam sapos e insetos da sua boca, só quando fosse falar merda, era merda mesmo que saltaria. 
Para cúmulo do azar ainda estaria fadada a ver a irmã continuar a falar da sua maneira doce e calma e ao final de cada frase que a femininésima irmã dizia, de sua boca saia uma maravilhosa rosa tipo enxertada de tão perfeita, só que também perfumada.
A tia Luíza enfeitava direitinho essa história, adequando às personalidades das minhas primas, a Cleide e a Clair, que se divertiam muito ouvindo. E eu com o divertimento delas, achando que seria muito bom ter uma irmã quase da minha idade para ter essa cumplicidade tão linda. 
Hoje passei o dia a fazer rosas de cristal lembrando da tia, querida tia Luíza. Eu estive travada para começar a realizar este trabalho. 
Não sabia que tipo de menina o anjo observador concluiu que fui.
Gente, boa! Boa menina, cada rosa linda, e não exclusivamente, entre um trabalho e outro! 

Já que a florear estou lembrei de um livrinho que guardo desde a adolescência, tem lindas fotografias de rosas e ao lado um verso, não encontrei o livro para pegar o nome do autor, mas ao lembrar da tia Luíza, me ocorreu este verso: 
"A minha rosa de repente
passou da infância a velhice,
mas eterno e permanente
foi tudo o que ela me disse."

Tem finais de tarde, assim, que não são tão cabeça, são só coração.