10 julho 2012

"Queridas Crianças"

     O homem que escreve estas linhas sequer sabe o nome de vocês. Por isso precisa escrever a todos em geral. Mas logo saberão a quem me refiro. Falo dos meninos e meninas que na quarta-feira passada me convidaram para ler trechos de um livro infantil que escrevi. No décimo sexto distrito, Schummeierplatz 17, na biblioteca infantil que existe lá. Agora que sabem a quem me refiro, podemos prosseguir. 
    O homem que escreve estas linhas teve grande medo quando se sentou no bonde 64 e foi até vocês.  Um medo como há muito não sentia. Mais medo do que antes de seu exame final; mais medo que numa delegacia de polícia. Pelo menos era assim que ele pensava. Pois nunca tinha lido para crianças. Por isso batia os dentes e o condutor encarou-o preocupado; apertava as mãos como se quisesse rezar e lamentou grandemente não ter tomado um pouco de valeriana.  Para se acalmar. Tamanho era o medo que ele tinha de vocês.
    Chovia a cântaros. Os jornais falavam do escândalo  Skorzeny em Madri e uma explosão de dinamite que matou 30 pessoas do potencial militar do Ocidente e do potencial militar da União Soviética. Era um dia como os outros. Igualmente horrível. O homem que escreve estas linhas sentia a chuva entrar pelo colarinho e tinha dor de cabeça. Estava realmente enjoado. Mas, quando chegou perto de vocês, aconteceu um pequeno milagre. É por causa desse pequeno milagre que ele está escrevendo estas linhas.  Pois foram vocês que realizaram esse pequeno milagre, embora não saibam disso. 
    Esperavam por ele em longas mesas numa grande sala. Os meninos à direita e as meninas à esquerda.  Quando ele entrou, todos vocês o encararam. E o coração dele caiu definitivamente aos pés. Logo depois, porém, aconteceu o milagre. Vocês o encararam tão amáveis, tão extraordinariamente simpáticos e convidativos, que ele fez das tripas coração e este lentamente voltou para o lugar certo, lá em cima. Um senhor, enquanto isso, começou a tocar piano. Executou uma peça alegre e vocês o escutaram com ar atento. Pareciam gostar do que estavam ouvindo, pois, quando ele terminou, aplaudiram.  Espontaneamente, com rostos sérios. Como as damas e cavalheiros aplaudem Monsieur Alfred Cortot. Só que com um pouco mais de espontaneidade.  E mais seriedade também. 
     Então, o homem a quem vocês tinham convidado subiu num pódio e olhou para vocês. (O coração estava outra vez um andar abaixo. Por precaução!) Mas o homem já não tinha medo. Apenas um coração muito covarde. Excetuando isso já se sentia tão bem junto de vocês como se os conhecesse há anos.  Como se frequentasse a mesma classe. Como se já tivesse atirado de bodoque com vocês, tentando entrar clandestinamente num cinema, num desses filmes que só se pode ver aos dezoito anos.
     Ele lhes sorriu e vocês lhe devolveram o sorriso. E então, ele pessoalmente pegou seu coração na mão e instalou-o em definitivo no lugar certo. E começou a ler o seu livro. 
     Primeiro, gaguejou um pouquinho mas vocês compreenderam o nervosismo dele e perdoaram-no generosamente. Depois, tudo ficou mais quieto, e ele pensou estar numa igreja. Há muito tempo não estivera em nenhuma, mas naquele momento acreditou que se achava numa, tão solene era o ambiente.
      O livro tratava de um rapaz que recebe um boletim com notas muito ruins e tem a mãe doente.  Por isso resolve não voltar para casa e sair para o grande mundo, passando por péssimas aventuras.  Pois é claro que essas coisas nunca dão certo.
     Na grande sala começou a instalar-se a penumbra.  De vez em quando um cano de água gorgolejava na parede. Ou passava um bonde. Mas nada mais se movia. Vocês se debruçavam nas mesas e encaravam o homem lá em cima. Quando os personagens do livro riam, vocês também riam. Quando choravam, vocês também choravam.  Quando ficavam nervosos, vocês ficavam nervosos. E quando eram perseguidos, vocês se sentiam perseguidos. E tudo isso sem um som. um ruído sequer. Só se via a reação em seus rostos, ou quando imitavam os movimentos dos personagens do livro.  seus olhos estavam presos ao homem que lia em voz alta, e não o abandonavam. Sempre que podia, ele erguia os olhos do livro e olhava vocês, pois sentia que ficava cada vez mais contente, na medida em que os jovens olhos da platéia o encaravam.  Também sentia cada vez mais nitidamente como era grande a honra que lhe foi conferida com o convite, e como estava feliz por escrever para vocês. Foi uma das horas mais solenes de sua vida.
     Saindo para a rua, ainda chovia. Só que sobre ele era como se chovessem bombons de chocolate! Sua náusea sumira, a cabeça parecia um maravilhoso balão. Ele já não tinha medo. Nem de vocês, nem de muitas outras coisas. Nem mesmo das manchetes dos jornais que ainda estavam sendo vendidos. Ele fitou-as mais uma vez , e alguma coisa deve ter acontecido com seus olhos, pois agora lia nas manchetes: "Somos jovens e isso é belo! enquanto houver crianças, haverá esperança." E mais: "Confederação Internacional de Crianças Promove a Paz Mundial."  Sim, era isso que ele lia! Desde então ele se sente feliz por ter olhos assim engraçados, por isso escreve para vocês. Para agradecer e desejar-lhes felicidades.
Seu devotado,
                                    Johannes Mario Simmel

Texto extraído do livro A Terra ainda é jovem de J. M. Simmel -Editora Nova Fronteira

Foto: Com Cristo - Cristo Vive, Alegre-se! Óleo sobre tela. Pintei em 2011.

Na Terra e no Céu, a Alquimia do Amor, no coração e na alma de todo o ser - Rumi:  http://youtu.be/QbVdQCy-J3E

09 julho 2012

Eu Existo

     A ciência esotérica afirma a eternidade da vida. Seu conceito central está contido na palavra Reencarnação, o que implica uma unidade permanente de existência a animar uma sucessão de corpos perecíveis. Para que este conceito se torne claro é preciso lembrar que Individualidade e Personalidade constituem dois aspectos distintos do ser humano.  A Individualidade está composta pelos três corpos superiores, isto é, a chispa do espírito puro do Sétimo Plano, a natureza espiritual e concreta do Sexto Plano. Uma vez evoluídos, esses corpos teem a duração dessa evolução, para serem, afinal reabsorvidos no Infinito como centros de irradiação organizados. Os quatro corpos inferiores - a mente concreta, a natureza emocional, a natureza passional e o corpo físico - são considerados invólucros temporários compostos pela matéria de seus respectivos planos, que a Individualidade utiliza como veículo e que, coletivamente, compõem o que chamamos Personalidade.
     Forma-se a Personalidade com o objetivo de permitir que a Individualidade que é informe, adquira experiência no mundo das formas. Tal  personalidade é abandonada tão logo se gaste e diminua a sua utilidade, enquanto as experiências pelas quais passou a Individualidade são absorvidas como alimento necessário ao seu desenvolvimento. É assim que a individualidade evolui através das idades, ao passo que as numerosas personalidades com ela relacionadas apenas se desenvolvem, vivem, envelhecem e morrem; mas como cada Personalidade é constituída sobre uma Individualidade evoluída, ela sempre será de um tipo superior à que a precedeu.
     A Individualidade é, pois, a Unidade de Evolução enquanto que a Personalidade é a Unidade de encarnação.
     Da doutrina de reencarnação surge a teoria esotérica do Destino.  A palavra Destino, é preciso dizê-lo, é sinônimo de Karma, utilizada nas escolas orientais.
     O Destino de um ser humano representa a soma total das causas que ele pôs em movimento em suas vdas passadas, causas que determinam as condições do presente.  Mas novas causas vão sendo introduzidas constantemente pela ação modificadora da vontade, fazendo, portanto, que o destino não tenha esse caráter de inevitabilidade que lhe dá a escola exotérica, senão que consiste, antes, numa influência que, em vez de determinar, condiciona.  É verdade que algumas das causas postas em movimento no passado são tão fortes que não há esforço de vontade possível que as detenha em seu caminho, tendo que contemplar como se esgota totalmente a força posta em movimento.  Mas sempre, pela sua vontade, o homem pode determinar o modo como irá reagir a elas ; se se deixará esmagar ou purificar; se se deixará exaltar por uma oportunidade bem aproveitada ou degradar por abuso.
     Por conseguinte a ciência esotérica ensina que, embora o ser humano tenha de resolver seus problemas no meio onde se encontrar, em qualquer vida que lhe seja dada, dentro do pequeno espaço de tempo que lhe for concedido e ele não tenha a vontade livre, assim mesmo ele pode determinar as causas que criarão seu futuro, de modo a fazer de si mesmo o que bem desejar.


Do precioso livro A Filosofia Oculta do Amor e do Matrimônio, de Dion Fortune, publicado pela Editora Pensamento. Adquiri em um sebo que fica na rua do Teatro São Pedro, em Porto Alegre.


Foto da pintura em óleo sobre madeira (retábulo) que fiz em 1993 para o Senhor Elóy, está em Novo Hamburgo/RS, e mede 180x70cm. E aqui, a Cidadania Espiritual, a diretriz -2012 e o Cidadão Índigo: http://youtu.be/NHpsyH1sxZ8