05 abril 2010

Teodoro Sampaio é Curaçau Blue

Me refaço da surpresa do encontro com a tropicalidade de Teodoro Sampaio, adapto-me a vertigem de não ter certeza se estou no mesmo país em que vivia.
Teodoro não parece cidade, não parece bairro... fica no estado de São Paulo mas as aves do Mato Grosso fazem ninho nos telhados daqui. 
Indo até o pórtico da cidade dá para ver a fronteira com o estado do Paraná. 
Teodoro é isso e mais; é um pedaço do Ceará que parece estar por ali ao aldo, pois é com o seu sotaque arrastado que as pessoas falam.
Teodoro é uma deliciosa salada de frutas coberta com o requintado queijo Cottage e servida em uma brega taça azul de plástico. 
Se Teodoro fosse uma bebida, não seria um Vinho do Porto, seria um licor Curaçau Blue de laranja. 
Se a cidade tivesse que ser definida com uma palavra eu usaria - short. 
Se fosse um calçado, seria o tal sapatinho de cristal. 
Qualquer um pode experimentar mas não serve para todo mundo. 
Se fosse uma roupa, estaria no avesso. As costuras e emendas são o que vemos, ao olhar para ela pela primeira vez. 
O conforto e a beleza, o que ela pode oferecer, só quem ousa fixar-se, entrar nela, descobre. 
Na noite em que a conheci, pensei que errara o caminho e que estava em uma cidade balneário do sul. Eram 22:00h, e as pessoas estavam nas ruas... o ar cheio de músicas, bandos de meninas passeando, crianças de bicicletas, adultos nos bares, olhei em seus olhos e não vi medo. Mas ao perguntarmos: -Ó cidade praiana, cadê o mar? A malemolência do sotaque local responderá: -Tem mar, nãão! Tem o rio Paranapanema, que dá para ver daqui, mas tem mar, nãão. 
O centro da cidade é um pedaço que o povo usa plenamente. O estrangeiro é tratado com elegância e simpatia, no máximo seguido com um olhar blasé. Fácil de entender a naturalidade diante dos estranhos: a rua principal de Teodoro Sampaio é uma SP: uma estrada estadual que atravessa o centro. No seu sentido mais estreito, eu aviso. Senão tu podes vir e constatar que em cinco minutos passa de uma ponta a outra da cidade e ainda pode ser que diga: -Mas a Giane é louca! Teodoro não é uma cidade, é um instante, é um vapt-vupt! Eu ficaria magoada se alguém fizesse um comentário assim. Todos pensam que o sinônimo de bom é grande, mas basta saber que o Líbano é um país, e que no seu sentido mais estreito é possível atravessa-lo em meia hora. 
Logo, convém reiterar: a estrada SP, atravessa a cidade onde ela é mais estreita! 
Quando o teodoro-sampaiense quer ver a produção do Mato Grosso, ou do Paraná passar, vai a um dos bares da Avenida Cuiabá, das 14:00 às 20:00h. Neste horário o tráfego se intensifica e desfilam por ali caminhões boiadeiros, canavieiros, comboios de carreteiros, de cervejarias, indústrias alimentares, e máquinas, que parecem naves espaciais andando na terra, muita camionete com barco ou lancha à reboque, e em suas esquinas é possível encontrar os pescadores vendendo peixes recém tirado no rio Paranapanema ou no Paraná. 
Uma das peculiaridades da cidade é que embora seja pequena, a maioria de suas habitações é composta por confortáveis residências com muros de dois metros e meio de altura, idealizados e construídos pela mania por segurança dos engenheiros, técnicos e administradores paulistanos, que nos anos setenta vieram para construir a barragem de Taquaruçú. 
Depois de construírem a barragem, os que não viciaram no Curaçau Blue, e que pensaram que não sentiriam falta de acordar com a algazarra das maritacas, papagaios e araras, foram embora. As acomodações ficaram e a passarada também. 
Como o clima na maior parte do tempo oscila entre muito quente, e no alto verão, pavorosamente quente e abafado, sempre que alguém resolve montar uma casa, antes de qualquer outro item instala o condicionador de ar. 
As vestimentas são leves e curtas, o que não impede a mulherada de andar bamboleando em cima de saltos altos. 
Na rua principal encontra-se o que for preciso para estar na última moda, mas shopping, somente em Presidente Prudente, que é a maior cidade próxima, distando cem quilômetros de Teodoro. 
Como a maioria das pessoas leva uma vida aberta e exposta, desfrutando de bastante sol, todos são bronzeados e entre a maioria que é de típicos brasileiros, os bem misturados, ha também muitos negros e japoneses. Miscigenação. Esta a receita que deu o bom samba de São Paulo. 
Para colocar a cereja que finaliza a descrição desta Teodoro Sampaio, exótica cidade salada de frutas, recentemente foi reconhecido e legalizado o Parque Florestal do Morro do Diabo. 
Ontem, a cem quilômetros daqui uma onça pintada foi vista desfilando sua elasticidade em campo aberto. Teodoro Sampaio não se parece com outras cidades. É diferente, cheira diferente, é uma mistura dos filmes do Glauber Rocha com os faroestes italianos do Giuliano Gemma, e mais um dedinho ultra-moderno da ação do grupo de proteção ambiental em estilo Grenpeace. 
Todo mundo informatizado e antenado para o que for contemporâneo e completamente satisfeito de não viver o lado desagradável das grandes cidades.
I love Teodoro Sampaio!

“Às vezes, quando o sol queima tão quente e potente sobre meu corpo preguiçoso, 
me assaltam de repente umas vontades loucas de lançar agudos gritos de júbilo, 
rir e cantar. Graças a Deus, afinal tenho ar de novo, liberdade, sol e 
um vasto horizonte! Volto a perceber com todos os sentidos que ainda sou jovem 

e tenho forças para desfrutar do belo mundo e ama-lo.” 

Fonte: Pequenas Alegrias de
Hermann Hesse


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