01 janeiro 2010

Reveillon



Acendi umas velas e coisa e tal. Bons fluidos para o 2010 e tal e coisa, e extenuada de tanto desejar, caí na cama, os dois se jogaram, cada um num braço e ela contou seus desejos dos quinze anos, ele falou das suas certezas dos oito. A janela aberta mostrou brilhos enlouquecedores. O 2010 chegava salpicando o céu com todas as cores - explosivas estrelinhas de papel laminado em frente ao Habib’s da Cerro Corá. Paramos de brincar que a cama era a jangada de Medusa cercada de tubarões, que se o naufrágio perdurasse teríamos que nos comer uns aos outros. Ela começaria por um ombro, ele pela parte acima dos meus cotovelos. Esta visto que cada um pegaria o pedaço que estivesse mais próximo. Mas por ser aquela, uma brincadeira enjoativa depois do jantar, largamos dela e entramos no carro para perseguir os fogos, quanto mais andamos, menos encontramos - justo! Nos afastávamos do núcleo, da borda, da virada e já entráramos pelas ruas do ano novo. Ele abriu os vidros e com a cabeça para fora gritava bendições aos gatos pingados de garoa, ela reclinou o banco para não ser descrita - irremediavelmente infantil, se ainda agora tivera competência de preparar o último Yakissoba do ano. Zonzos pela uva concentrada de Bento Gonçalves, circulamos a árvore do Ibirapuera. A lembrança da exposição do Rodin, visitada ontem, brotando pelas orelhas...Ô soninho bom, ô chuvinha acertada para germinar semeaduras!

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