21 fevereiro 2011

Um dos poucos representantes do governo de Sua Majestade lembrado pelos árabes com algo semelhante a afeição

A manhã era nova e a chuva viera forte, descendo em fila entre os arbustos e árvores úmidas que apertavam o trilho enroscando volta e meia em minhas pernas e roupas curtas de verão, chuva forte de verão, no trilho batido sabão escorrido desliza que te vejo cair, gargalha o primo, mas a prima diz que não tem graça não vê que é pequena e temos que cuidar!? Ara, que pena que não dá para judiar, ouvi quando pensou. Atrás a mãe e a tia: Será que não tem perigo Luiza? Nenhum respondia a tia. O Potiribu roncava coisa feia à frente. Enchente! Subira muito, avançou alargando as margens escondendo as pedras da taipa onde tia Luiza lavava roupas: – Foi uma noite bem chovida! Chegando à beira do rio as mulheres a catar bromélias entretidas a sonhar jardins aconselharam a ficarmos quietos, mas se quietos fazemos artes. Cleide e Juarez me ensinaram como agarrar nos arbustos de forma a botar o pé na correnteza sem perigo de cair no caudal ocre do monstro senhor, o Potiribu bufava! Queria me levar ele disse: -Vem guriazinha, que a vida muda, é só uma brincadeira, tu te largas e te levo, chacoalhas um pouco bebendo d’água, é uma brincadeira bem diferente, vem menina! 
Sei que é rápido o rolar na água, rolar com tocos e galhos loucos, gira o redemoinho Potiribu! Sei o que acontece com quem tu carregas, tenho quatro anos de vida esperta. Depois que o rádio conta, demora uns dias e as carnes inchadas aparecem espetaculosas a dar vexame; ele gargalhou desaforado: 
-Sabidinha porqueirinha, formiga que te agarro, e o galho logo acima cedeu, água abaixo enroscou meu pé, suas unhas cravaram em minha canela valendo uma viagem. 
Gritam os primos ordens seguras e barranco acima salta a gatinha, unhas de lama, arfando viva, nos braços todo o poder. Braços de quem, o poder? Acodem as mulheres à gritaria. 
-Não foi nada, a bobinha está chorando porque deixou o chinelo cair e o rio levou. 
-Levou o chinelo novo? Merecia umas chineladas com o que ficou! Novo, novo, Havaianas novas, Luiza!
-Não tem importância, chega de bromélias, vou fazer um chá de mate com leite e fritar bolinhos, a manha passa - mas que bromélias! 
Meses depois voltamos a casa da tia, havia uma alegria de festa, os pescadores haviam encontrado o chinelinho da menina preso nuns galhos alguns quilômetros abaixo, como sabiam que aqui tem crianças, trouxeram, está novo e limpo!
Tu saberias informar onde andará o outro pé do meu chinelinho?


Nas fotos: T. E Lawrence, Rei Faisal e Gertrude Bell, a arqueologa inglesa nascida em Washigton Hall, aos 14 de julho de 1868. Pesquisadora nata que desde cedo manifestou interesse na política internacional. 
Após muitas viagens onde ajudou a mapear especialmente o Iraque, pelo cabedal de conhecimento acumulado e o bom relacionamento no Oriente Médio, tornou-se a mais qualificada mediadora entre governos árabes e oficias britânicos. 
Gertrude é descrita por Thomas Edward Lawrence, o oficial inglês personificado por Peter O'Toole Lawrence da Arábia, (clássico filme de 1962), como sendo capaz de acender fogueiras em câmaras frias
m 1916 foi convocada a integrar a recém formada Mesa Àrabe, tal era sua influência e respeitabilidade entre todos os integrantes da Aliança. Chamada pelos iraquianos como "al-Khatun" - a Senhora da Corte que tem olho aberto e ouvido atento para o bem do Estado, foi confidente do rei Faisal do Iraque e ajudou a introduzi-lo e a ser aceito no papel pelos líderes tribais do Iraque.
Hoje sua intervenção e apontamentos são referidos como potencializadores das infindáveis crises na Região, porém, ela sempre afirmou que o trabalho que começara precisava ser continuado na mesma linha para que o resultado fosse o ideal. 
Participou da fundação e formação do Museu Arqueológico do Irak em Bagdá, cedendo artefatos de sua coleção. Escreveu muitos livros e correspondência, relatórios de inteligência, obras de referência, pelo excesso de trabalho e por ser fumante inveterada sofreu ataques de bronquite recorrentes potencializados pelo clima quente de Bagdá e pelos surtos de malária, que muito a fragilizaram, nesta época teria comentado com sua madrasta e confidente da vida toda, que após concluida esta jornada: "trataria de nunca mais fazer reis", encontrava-se extenuada. 
Desde a morte do major Charles Doughty-Wylie em 1915,o único homem que amou, Gertrude tornara-se também sujeita a crises de depressão. 
Em 1925 viaja para a Inglaterra onde encontra a família de empresários arruinada pelas greves pós Primeira Guerra Mundial, retorna a Bagdá e desenvolve pleurisia, logo que se recupera é informada da morte de seu irmão Hugo
Gertrude faleceu em 12 de Julho de 1926. Aparentemente teria exagerado nas pílulas para dormir, uma vez que pouco antes de deitar-se pediu a sua empregada que a acordasse em determinado horário. 
Foi enterrada no cemitério britânico em de Bab al-Sharji, Bagdá o Rei Faisal acompanhou o cortejo de sua varanda. 
Seu colega David G. Hogarth escreveu seu obituário manifestando o respeito dos oficiais britânicos liderados por ela: Nenhuma mulher em tempos recentes tem combinado suas qualidades - seu gosto pela aventura árdua e perigosa, com seu interesse e conhecimento científico, sua competência em arqueologia e arte, seu dom literário distinto, a sua simpatia para com todos os tipos e condições dos homens, sua visão política e valorização dos valores humanos, seu vigor masculino, de senso comum e da eficiência prática - temperada por um encanto feminino e o espírito mais romântico de todos.


Para o vídeo sobre uma da expedição de Gertrude, a de Tur'Abdin, clique aqui, ou no título da postagem http://www.youtube.com/watch?v=mq28E5P80e4

Nenhum comentário: