Bendita é a vida abençoada a cada etapa com uma ou algumas primeiras vezes.
Num janeiro dos mais quentes, em 1991 ou dois, ou antes, certamente não depois - o quê?, tentando ser precisa - então, saí com a jornalista Iara Soares rumo a Uruguaiana...ou São Borja... Montávamos uma galeria de arte e antiguidades e uma amiga dela tinha um antiquário em São Borja -isso -São Borja! Chegamos na cidade perto do meio dia, a amiga que estava na fazenda deixou recado que entrássemos e pagássemos o que interessasse e depois se via o que fazer. Como previra Iara, tinha de tudo ali -na beira do Uruguay- tinha de tudo! Havia um lindo móvel que aparentava ser um armário, mas era uma geladeira de madeira de louro: um frigobar dos antigos. A portinha tinha a fechadura de metal e o puxador era de madeira, media um metro e vinte de altura, quarenta de profundidade e de largura. Não lembro de mais nada naquela cidade, da cara da amiga quando chegou, seu nome, detalhes da casa onde nos recebeu -niente! Depois que vi a geladeira... só dela, très graciosa!
A montagem da galeria foi uma temporada repleta de novidades. No retorno daquela viagem Iara me deu a canja de pararmos no meio do caminho e me apresentou às ruínas de São Miguel Arcanjo, uma das reduções jesuíticas que foi fundada em 1609 na chegada dos primeiros padres jesuitas da Companhia de Jesus. Ali está a catedral em estado que dá vontade de reconstruir, parece fácil; heresia, eu sei! Então, as ruinas da catedral com fundações do hospital, escola e oficinas e cemitério integrando o complexo Missioneiros dos Sete Povos, que entre Paraguay, Brasil e Argentina chegou a abrigar 80 mil índios, uma nação de Guaranis evangelizados.
Avista-se as ruínas de São Miguel a uma distância de quilômetros, e quando alcançamos o pátio principal na frente da catedral, o solo vibra sob nossos pés -todos dizem a mema coisa, parece caixa de ressonância, o couro esticado dum tambor hidratado a sangue.
Pulsa a vida onde tantos a perderam, solo sagrado pisoteado pelos séculos, o vento bafeja ecos do passado dos índios e sua flautas, seus gritos, e a assombrosa barbárie. Dá pra sentir que não foi pequena; 80 mil índios pacíficos, artistas e eruditos, dententores da posse da terra fértil e do maior rebanho de gado da Américas...em São Miguel tudo se mistura num canal histórico, a primeira vez é para nunca esquecer!
E corre para o beiral do museu, que parece que lá vem galopando Sepé Tiarajú, o índio herói ao qual se atribui o grito:-Esta terra tem dono! Virou São Sepé, um santo popular não muito católico, virou município, um município pequeno, mas que tem dono. Do resto da viagem nem me lembro, sendo a culpa provável, do peso dos arquivos contendo a satisfação por estar com a geladeirinha na carroceria e ter conhecido o platô escolhido pelos jesuítas quando ali instalaram a Redução.
O revestimento interno da geladeira de madeira era de um metal semelhante ao alumínio, entre a madeira e o metal havia uma camada de porcelana, barras de gelo podiam ser armazenadas na antepassada da Uaná (revolucionário conceito-projeto ecológico desenvolvido pela designer Sueli Takejame, recentemente premiado.)
Iara, que fim levou a geladeirinha?
A montagem da galeria foi uma temporada repleta de novidades. No retorno daquela viagem Iara me deu a canja de pararmos no meio do caminho e me apresentou às ruínas de São Miguel Arcanjo, uma das reduções jesuíticas que foi fundada em 1609 na chegada dos primeiros padres jesuitas da Companhia de Jesus. Ali está a catedral em estado que dá vontade de reconstruir, parece fácil; heresia, eu sei! Então, as ruinas da catedral com fundações do hospital, escola e oficinas e cemitério integrando o complexo Missioneiros dos Sete Povos, que entre Paraguay, Brasil e Argentina chegou a abrigar 80 mil índios, uma nação de Guaranis evangelizados.
Avista-se as ruínas de São Miguel a uma distância de quilômetros, e quando alcançamos o pátio principal na frente da catedral, o solo vibra sob nossos pés -todos dizem a mema coisa, parece caixa de ressonância, o couro esticado dum tambor hidratado a sangue.
Pulsa a vida onde tantos a perderam, solo sagrado pisoteado pelos séculos, o vento bafeja ecos do passado dos índios e sua flautas, seus gritos, e a assombrosa barbárie. Dá pra sentir que não foi pequena; 80 mil índios pacíficos, artistas e eruditos, dententores da posse da terra fértil e do maior rebanho de gado da Américas...em São Miguel tudo se mistura num canal histórico, a primeira vez é para nunca esquecer!
E corre para o beiral do museu, que parece que lá vem galopando Sepé Tiarajú, o índio herói ao qual se atribui o grito:-Esta terra tem dono! Virou São Sepé, um santo popular não muito católico, virou município, um município pequeno, mas que tem dono. Do resto da viagem nem me lembro, sendo a culpa provável, do peso dos arquivos contendo a satisfação por estar com a geladeirinha na carroceria e ter conhecido o platô escolhido pelos jesuítas quando ali instalaram a Redução.
O revestimento interno da geladeira de madeira era de um metal semelhante ao alumínio, entre a madeira e o metal havia uma camada de porcelana, barras de gelo podiam ser armazenadas na antepassada da Uaná (revolucionário conceito-projeto ecológico desenvolvido pela designer Sueli Takejame, recentemente premiado.)
Iara, que fim levou a geladeirinha?
Na foto: óleo sobre tela que pintei no ano passado, crianças da minha família e dos vizinhos brincam, seu Feliciano e meu pai, Basílio, chimarreando.
As ruínas de São Miguel ao fundo.
As ruínas de São Miguel ao fundo.
Para ver o vídeo Fordismo, clique aqui: http://www.youtube.com/watch?v=al9AZjSbIF8
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