18 março 2010

Caminhada

-->Hoje na caminhada resolvi não ir na direção da Praça Panamericana como faço sempre, fui até a Praça Valdir Azevedo, ou, como ouço falarem, Mirante da Lapa, que fica na Av. Cerro Corá. 
Uma equipe de limpeza urbana com carros, telas e escadas, emprestava ao lugar uma atmosfera de preparativos para festa. Alguns trabalhadores em seus macacões cinza prateado, sentados no labirinto da praça saboreavam marmitas entre gracejos, outros ocupavam escadarias e ruas adjacentes. No interior do parque havia uma árvore cujo tronco era necessário duas pessoas para abraçar, serrada em toras e ainda expelindo um pouco de seiva, fiquei penalizada e me aproximei para examinar. Estava coberta de erva de passarinho e orquídeas, mas o tronco estava oco. 
Enfiei a cara no buraco e encantada examinei a estrutura cavada ao longo dos anos no venerável vegetal. Por dentro era de cor marrom escura e rugosa, mas com algumas ervas miúdas em seu interior, havia no fundo do buraco uma estrutura que reluzia um pouco, brilhando como teia de aranha no sereno, busquei nas imediações uma vara para cutucar o trofoblasto ou bastocisto que imaginava ter encontrado, um ovo? Nada! 
Era o fundo duma garrafa pet de 250 ml.
Muito bem!
Enquanto subia e descia as escadas imaginando recuperar a tonicidade perdida nos dias de resfriado, encontrei um senhor, provavelmente médico. Não sei por que sei, só sei que é. Médicos de vida inteira têm uma maneira peculiar de carregar a cabeça, também havia uma senhora muito suada e vermelha, podia ser meu reflexo, estaria tentando recuperar o tempo perdido?
Na saída do parque restava um canteiro tomado por dentes de leão, deixado por último pelos trabalhadores, ou talvez houvesse entre eles algum francês. Lembrei do dia em que fizemos a jardinagem em casa de Chantal, na França, eu arranquei toda erva que encontrei - mini-margaridas e dentes-de-leão, depois que terminamos e sentamo-nos para hidratação, ela quis saber: 
-No Brasil vocês não admitem ervas no meio da grama?
Cortei a parte lírica, espontânea do jardim dela? 
Pois sim, e arranquei a raiz.
Sorri como a Puka do desenho animado, com as  bochechas vermelhas.
Na França, Henry caminhava na minha frente enquanto o grupo vistoriava as obras do jardim da casa de Martine e Christian, ele abaixou-se rapidamente e a traição soprou um dente de leão gigantesco na minha cara. 
Fiquei ofendidíssma, mais pela gargalhada que ele soltou enquanto eu tentava encontrar meus olhos e limpar meus cabelos no meio da semente plumosa. Quando retornei, relatei à minha mãe este agravo internacional, minha mãe entende de costumes. 
O que teria significado aquilo? Ela também riu: 
-Dá ódio, não dá? Quando eu era criança, os meninos dos Benm é que faziam isso, mas eles, antes de soprar, perguntavam: -Queres ver o diabo?

Na foto e no link, Aeon Flux:

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