Este é um texto que se deve repassar, recebi-o de um grande amigo que vive
nos Estados Unidos da America, pois, nos dá uma bela noticia
que enaltece nosso belo e amado país, no tratamento do mal de
Parkinson e outras doenças. A reportagem
é longa, mas rogo que a leia até o final, pois é muito importante
conhecer este belo trabalho do Dr. Paulo. Ontem à noite,
já no inicio da madrugada vejo uma reportagem em Minas Gerais, de um
tratamento com células tronco em uma pessoa que ficou paraplégica após
um acidente de automóvel e que está começando a sentir suas pernas e pelas
previsões poderá andar em breve. Outro grande
cientista brasileiro que também vive nos EUA e que tem atividades
intensas aqui em nosso país, Dr. Miguel Nicolelis, também está fazendo
pesquisas para que pessoas com lesões físicas possam voltar à vida
normal, realmente essas noticias é que devem correr pela internet, pois
vemos nelas um futuro promissor para a
humanidade. Não fazer
apologia dos títulos, posses e famas, pois essas são efêmeras e nos
mostram a realidade: TUDO PASSA, principalmente o tempo que nos faz
envelhecer com uma qualidade de vida
fictícia. Segue
POR DENTRO DO CÉREBRO - Entrevista com
Paulo Niemeyer Filho,
neurocirurgião
O neurocirurgião Paulo Niemeyer
Filho conta os avanços nos
tratamentos de doenças como o mal de
Parkinson e como evitar
aneurisma e perda de memória.E projeta, ainda,
o futuro próximo, quando
boa parte do sistema neurológico estará sob controle do
homem. Chegar à casa do neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, no
alto da Gávea, no Rio de Janeiro, é uma emoção. A começar pela vista
deslumbrante da cidade, passando pelos macacos que passeiam pelos galhos
até avistar as orquídeas que caem em pencas das árvores, colorindo todo
o jardim. Ou seja: a competência desse médico, com 33 anos de profissão, que dedica
sua vida à medicina com a paixão de um garoto, pode ser contada em
flores. E são muitas. Filho do lendário neurocirurgião Paulo
Niemeyer, pioneiro da microneurocirurgia no Brasil, e sobrinho do
arquiteto Oscar Niemeyer, Paulo escolheu a medicina ainda adolescente.
Aos 17 anos, entrou na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Quinze
dias depois de formado, com 23 anos, mudou-se para a Inglaterra, onde
foi estudar neurologia na Universidade de Londres. De volta ao Brasil,
fez doutorado na Escola Paulista de
Medicina. Ao todo, sua
formação levou 20 anos de empenho
absoluto.
Mas a
recompensa foi à altura. Apaixonado por seu ofício, Paulo chefia hoje os serviços de neurocirurgia da
Santa Casa do Rio de Janeiro e da Clínica São Vicente, onde
atende e opera de segunda a sábado, quando não há uma emergência no
domingo, e ainda encontra tempo para dar aulas no curso de pós-graduação
em neurocirurgia na PUC-Rio.
Por suas mãos
já passaram o músico Herbert Vianna - de quem cuidou em 2001, depois do
acidente de ultraleve em Mangaratiba, litoral do Rio -, o ator e diretor
Paulo José, a atriz Malu Mader e, mais recentemente, o diretor de
televisão Estevão Ciavatta - marido da atriz Regina Casé que, depois de
um tombo do cavalo, recupera-se plenamente -, além de centenas de outros
pacientes, muitos deles representados pelas belas flores que enchem de
vida o seu jardim.
Revista
PODER: Seu pai também era
neurocirurgião. Ele o influenciou?
PAULO
NIEMEYER: Certamente. Acho que queria
ser igual a ele, que era o meu ídolo.
PODER:
Seu pai trabalhou até os 90
anos. A idade não é um complicador para um neurocirurgião?
Ela não tira a destreza das mãos, numa área em que isso é
crucial?
PN:
A neurocirurgia é muito mais
estratégia do que habilidade manual. Cada caso tem um
planejamento específico e isso já é a metade do resultado. Você tem de
ser um
estrategista.
PODER:
O que é essa inovação
tecnológica que as pessoas estão chamando de marcapasso do
cérebro?
PN:
Tem uma área nova na neurocirurgia chamada neuromodulação, o que popularmente
se chama de marcapasso,
mas que nós chamamos de estimulação
cerebral profunda. O estimulador fica embaixo da pele e são colocados
eletrodos no cérebro, para
estimular ou inibir o
funcionamento de alguma área. Isso começou a ser utilizado para os
pacientes de Parkinson.
Quando a pessoa tem um tremor que não controla, você bota um eletrodo no
ponto que o está provocando, inibe essa área e o tremor pára. Esse
procedimento está sendo ampliado para
outras doenças. Daqui a um ou dois anos, distúrbios
alimentares como obesidade mórbida e
anorexia nervosa vão ser tratados com um estimulador
cerebral. Porque não são
doenças do estômago, e sim da
cabeça.
PODER:
O que se conhece do cérebro humano?
PN:
Hoje você tem os exames de
ressonância magnética, em que consegue ver a ativação das áreas cerebrais, e
cada vez mais o cérebro vem sendo desvendado.
Ainda há muito
o que descobrir, mas com essas técnicas de estimulação você vai
entendendo cada vez mais o funcionamento dessas áreas. O que ainda é um
mistério é o psiquismo, que é muito
mais complexo. Por que um clone jamais será igual ao
original?
Geneticamente
será a mesma coisa, mas o comportamento depende
muito da influência do meio e de outras causas que a gente nunca vai desvendar
totalmente.
PODER:
Existe uma discussão entre
psicanalistas e psiquiatras, na qual os primeiros apostam na
melhora por meio da investigação da subjetividade, e os últimos
acreditam que boa parte dos problemas psíquicos se resolve com
remédios.. Qual é sua opinião?
PN:
Há casos de depressão que são
causados por tumores
cerebrais: você opera e o doente fica bem. Há casos de
depressão que são causados por deficiência química: você repõe a
química que está faltando e a pessoa fica bem. Numa época em que se
fazia psicocirurgia
existiam doentes que ficavam trancados num quarto escuro e quando faziam
a cirurgia se livravam da depressão e nunca mais tomavam remédio. E há
os casos que são puramente psíquicos,
emocionais, que não têm nenhuma indicação de tomar
remédio.
PODER:
Já existe alguma evolução na neurologia por causa das
células-tronco?
PN:
Muito pouco. O que acontece com as células-tronco é que você não sabe
ainda como controlar. Por exemplo: o paciente tem um déficit motor, uma
paralisia, então você injeta lá uma célula-tronco, mas não consegue ter
certeza de que ela vai se transformar numa célula que faz o movimento.
Ela pode se transformar em outra coisa, você não tem o controle,
ainda.
PODER:
Existe alguma coisa que se possa fazer para o cérebro funcionar
melhor?
PN:
Você tem de tratar do espírito. Precisa estar feliz, de bem com a vida,
fazer exercício. Se está deprimido, com a autoestima baixa, a primeira
coisa que acontece é a memória ir embora; 90% das queixas de falta de
memória são por depressão, desencanto, desestímulo. Para o cérebro
funcionar melhor, você tem de ter motivação. Acordar de manhã e ter
desejo de fazer alguma coisa, ter prazer no que está fazendo e ter a
autoestima no ponto.
PODER:
Cabeça tem a ver com alma?
PN:
Eu acho que a
alma está na cabeça. Quando um doente está com morte cerebral, você tem
a impressão de que ele já está sem alma... Isso não dá para explicar, o
coração está batendo, mas ele não está mais
vivo.
PODER:
O que se pode fazer para se prevenir de doenças
neurológicas?
PN:
Todo adulto deve incluir no check-up
uma investigação cerebral. Vou dar um exemplo: os aneurismas
cerebrais têm uma mortalidade de 50%
quando rompem, não importa o tratamento. Dos 50% que não morrem 30% vão ter uma sequela
grave: ficar sem falar ou ter uma paralisia. Só 20% ficam
bem. Agora, se você encontra o aneurisma num checkup, antes
dele sangrar, tem o risco do tratamento, que é de 2%, 3%. É uma doença
muito grave, que pode ser prevenida
com um check-up.
PODER:
Você acha que a vida moderna atrapalha?
PN:
Não,
eu acho a
vida moderna uma maravilha. A vida na Idade Média era um horror. As
pessoas morriam de doenças que hoje são banais de ser tratadas. O
sofrimento era muito maior. As pessoas morriam em casa com dor. Hoje
existem remédios fortíssimos, ninguém mais tem
dor.
PODER: Existe algum inimigo do bom
funcionamento do cérebro?
PN: O
exagero. Na bebida, nas drogas, na
comida. O cérebro tem de ser bem tratado como o corpo. Uma coisa depende
da outra. É muito difícil um cérebro muito bem num corpo muito
maltratado, e vice-versa.
PODER:
Qual a evolução que você imagina para a
neurocirurgia?
PN:
Até agora a gente trata das deformidades que a doença causa, mas acho
que vamos entrar numa fase de reparação do funcionamento cerebral,
cirurgia genética, que serão cirurgias com introdução de cateter,
colocação de partículas de nanotecnologia, em que você vai entrar na
célula, com partículas que carregam dentro delas um remédio que vai
matar aquela célula doente. Daqui a
50 anos ninguém mais vai precisar abrir a
cabeça.
PODER:
Você acha que nós somos a última geração que vai
envelhecer?
PN:
Acho que vamos morrer
igual, mas vamos
envelhecer menos. As pessoas irão bem até morrer. É isso que
a gente espera. Ninguém quer a decadência da velhice. Se você
puder ir bem de saúde, de aspecto, até o dia da morte, será uma
maravilha, não é?
PODER:
Você não vê contra indicações na manipulação dos processos naturais da
vida?
PN: O que é perigoso nesse progresso todo é que,
assim como vai criar novas soluções, ele também trará novos problemas.
Com a genética, por exemplo, você vai fazer um exame de sangue e o
resultado vai dizer que você tem 70% de chance de ter um câncer de mama.
Mas 70% não querem dizer que você vai ter, até porque aquilo é uma
tendência. Desenvolver depende do meio em que você vive, se fuma, de
muitos outros fatores que interferem. Isso vai criar um certo pânico. E,
além do mais, pode criar problemas, como a companhia de seguros exigir
um exame genético para saber as suas tendências. Nós vamos ter problemas
daqui para frente que serão éticos, morais, comportamentais,
relacionados a esse conhecimento que vem por aí, e eu acho que vai ser
um período muito rico de debates.
PODER:
Você acredita que na hora em que as pessoas puderem decidir
geneticamente a sua hereditariedade e todo mundo tiver filhos fortes e
lindos, os valores da sociedade vão se inverter e, em vez do belo, as
qualidades serão se a pessoa é inteligente, se é culta, o que
pensa?
PN:
Mas aí você vai poder escolher isso também. Esse vai ser o problema:
todo mundo vai ser inteligente. Isso vai tirar um pouco do romantismo e
da graça da vida. Pelo menos diante do que a gente está acostumado. Acho
que a vida vai ficar um pouco dura demais, sob certos aspectos. Mas, por outro lado, vai trazer curas e
conforto.
PODER:
Hoje a gente lida com o tempo de uma forma completamente diferente. Você
acha que isso muda o funcionamento cerebral das
pessoas?
PN:
O cérebro vai se adaptando aos
estímulos que recebe, e às necessidades. Você vê pais
reclamando que os filhos não saem da internet, mas eles têm de fazer
isso porque o cérebro hoje vai funcionar nessa rapidez. Ele tem de
entrar nesse clique, porque senão vai ficar para trás. Isso faz parte do
mundo em que a gente vive e o cérebro vai correndo atrás, se
adaptando.
PODER:
Já aconteceu de você recomendar um procedimento e a pessoa não querer
fazer?
PN:
A gente recomenda, mas nunca pode forçar. Uma coisa é a ciência, e outra
é a medicina. A pessoa, para se sentir viva, tem de ter um mínimo de
qualidade. Estar vivo não é só estar respirando. A vida é um conjunto.
Há doentes que preferem abreviar a vida em função de ter uma qualidade
melhor. De que adianta ficar ali, só para dizer que está vivo, se o
sujeito perde todas as suas referências, suas riquezas emocionais,
psíquicas. É muito difícil, a gente tem de respeitar
muito.
PODER:
Como é o seu dia a dia?
PN:
Eu opero de segunda a sábado de manhã, e de tarde atendo no consultório.
Na Santa Casa, que é o meu xodó, nós temos 50 leitos, só para pessoas pobres. Eu opero lá duas
vezes por semana. E, nos outros dias, na Clínica São Vicente. O que a
gente mais opera são os aneurismas cerebrais e os tumores. Então, é
adrenalina todo dia. Sem ela a gente desanima e o cérebro funciona mal.
(risos)
PODER:
Você é workaholic?
PN:
Não é que eu trabalhe muito, a minha vida é aquilo. Quando viajo, fico
entediado. Depois de alguns dias, quero voltar. Você perde a sua
referência, está acostumado com aquela pressão, aquele elástico
esticado.
PODER:
Como você lida com a impotência quando não consegue salvar um
paciente?
PN:
É evidente que depois de alguns anos, a gente aprende a se defender.
Mas perder um doente faz mal a um
cirurgião. Se acontece, eu paro com o grupo para discutir o
que se passou, o que poderia ter sido melhor, onde foi a dificuldade.
Não é uma coisa pela qual a gente passe batido. Se o cirurgião acha banal perder um paciente é
porque alguma coisa não está bem com ele
mesmo.
PODER:
Como você lida com as famílias dos seus pacientes?
PN:
Essa relação é muito importante. As
famílias vão dar tranquilidade e confiança para fazer o que deve ser
feito. Não basta o doente confiar no médico. O médico também tem de confiar no doente. E na
família. Se é uma família que cria caso, que é brigada entre
si, dividida, o cirurgião já não tem a mesma segurança de fazer o que
deve ser feito. Muitas vezes o doente não tem como opinar, está
anestesiado e no meio de uma cirurgia você encontra uma situação
inesperada e tem de decidir por ele. Se tem certeza de que ele está fechado com você, a decisão é fácil. Mas se o doente é uma pessoa em
quem você não confia, você fica inseguro de tomar certas decisões.
É uma relação bilateral, como num
casamento. Um doente que você opera é uma relação para o
resto da vida.
Poder:
Você acredita em Deus?
PN: Geralmente
depois de dez horas de cirurgia, aquele estresse, aquela adrenalina
toda, quando você acaba de operar, vai até a família e diz: "Ele está
salvo". Aí, a família olha pra você e diz: "Graças a Deus!". Então, a
gente acredita que não fomos apenas nós.
PODER:
Como você relaxa?
PN:
Estudando. A coisa que mais gosto de fazer é ler. Sábado e domingo,
depois do almoço, gosto de sentar e ler, ficar sozinho em
silêncio absoluto.
PODER:
E o que gosta de ler?
PN:
Sobre medicina ou história. Agora estou lendo um livro antigo, chamado
Bandeirantes e Pioneiros, do Vianna Moog, no qual ele compara a
colonização dos Estados Unidos com a do Brasil. E discute por que os
Estados Unidos, com 100 anos a menos que o Brasil, tiveram um
enriquecimento e um progresso tão rápidos. Por que um país se
desenvolveu em progressão geométrica e o outro em progressão
aritmética.
Foto, meu mural inacabado: fotografada por Camille Luar.
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