17 junho 2011

Jangada de Medusa

Conheci minha mestre, Inge Jost Mafra, em um curso aberto da UNIJUÍ. Logo após o término do mesmo passei a freqüentar a casa dela e do marido, o advogado Ben-Hur Lens Mafra,  naquele lar universal recebi instrução global, saborosa e divertida...
Modelagem: Ben-Hur modelo. Pintura e desenho: tantas vezes Ben-Hur como modelo e crítico. Cinema: Ben-Hur professor, Literatura: Ben-Hur indicando e emprestando livros de sua biblioteca, fazia-nos assinar fichas de empréstimo.  Tinha uma grande biblioteca e um curioso catre onde lia, parecia muito incômodo, quando perguntei-lhe por que, respondeu que um filósofo não se desenvolve no conforto. Era tarde, a casa era uma delícia, o projeto da vida deles, recém concretizado. Ali havia também e evidentemente, atenção à  gastronomia, especialmente às sopas, que Inge preparava declarando os passos. No inverno ela e Ben-Hur estavam mais inspirados a reunir, e assistindo documentários raros ao sabor de vinhos bons aprendíamos macetes para valorizar as sopas e caldos, fácil com os ingredientes que eles produziam na granja... 

Inge vivia perfumada de cebola e alho frescos. Criei um dos meus filhos, o Marcelo, que ela amava e acreditava que fosse se tornar um artista (e de fato, hoje, aos 24 anos, ele trabalha na produção de cenografia para peças teatrais), e tive minha única filha naquela época. Inge foi a primeira visita que Camille recebeu. 
Através da irmã  de Inge, a conceituada terapeuta Renate Jost de Moraes, durante sua apresentação e temporada de atendimento no Colégio Sagrado Coração de Jesus, fui iniciada na regressão orientada a vidas passadas (http://www.fundasinum.org.br/curric_renate.htm).
Na semana passada recebi uma linda coleção de fotos, são releituras de obras dos grandes mestres da pintura feitas com legumes, os originais pertencem ao Museu dos Legumes de Israel. Ao ver a releitura de A Jangada de Medusa, logo me lembrei de Ben-Hur, que declarava sua admiração eterna pela obra, que dizia ser a melhor pintura de todas que conhecia, e Ben-Hur conhecia muito de tudo. 

A cada citação fazia questão de mencionar a história da obra de Theodore Gericault e o contexto de sua apresentação no Salon de Paris, ano de 1919 (veja a história ativando o seguinte link, que se Ben-Hur ler este escrito, lá onde está, e vir que não honrei suas aulas, ao menos indicando... então, ative o link! http://www1.ci.uc.pt/iej/alunos/1999-2000/medusa/quadro.htm ). 
Quando freqüentei a casa, atelier, escritório de advocacia, durante as férias, dois dos filhos deles circulavam por lá, estudavam arquitetura em Porto Alegre e São Leopoldo, André e Leandro. 
Por influência de Leandro estudamos o projeto arrojado que Paulo Mendes da Rocha criara para o MuBE de São Paulo, viríamos para a Bienal com o grupo de Artes da universidade, que Inge coordenava e estudávamos detalhadamente os pontos que integrariam a agenda de visitas. 
Conhecemos um MuBE sem exposição, sendo ele mesmo o foco. A construção estava sendo finalizada e Inge solicitara a autorização prévia. Pisamos no concreto virgem de público - eu inaugurei o MuBE!? 
O filho mais velho de Inge estava no exterior, o engenheiro envolvido com projetos de sustentabilidade quando ainda ninguém sabia o que isso significava. A única filha de Inge, Clara Cristina, morava em São Paulo.
Recentemente encontrei via net o filho mais velho, o famoso Nono. Nono é a cara da mãe, sorri como a mãe - a pessoa mais doce e sensível que conheci, a culta coordenadora do Curso de Artes da UNIJUÍ, que se gabava de ter sido a primeira moça da cidade a usar lentes de contato azuis, que encomendou do exterior especialmente para o dia de seu casamento  com Ben-Hur, certamente o homem mais amado e cultivado por sua esposa que já conheci.
Depois que me mudei de cidade e estado, trocávamos cartas.
Nos vimos pela última vez há nove anos na casa dela, um mês depois de Ben-Hur ter falecido. Depois que eu estava morando em São Paulo chegou um dia de inverno, ou não, mas de muito frio, uma carta de Inge: fôra diagnosticada com câncer de pâncreas - lutava e estava positiva.


Hoje foi dia de sopa, sempre remete... Jangada de Medusa também.

Para ver um maravilhoso arquitexto sobre o desenvolvimento do conceito MuBE, de autoria de David Sperling, ative o link:  
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.018/828  
E no título da postagem Edelweiss, 
que também remete a carinho,  
cuidado e acolhimento.

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