11 junho 2013

Marte em Cores, O Faraó Alado e Frente a Frente



"-Há outros mundos como o nosso, incontáveis como as gotas de água de um rio. Tentar imaginar uma tal imensidão é tolice: pois quem tenta fitar os segredos do Sol fica cego e não consegue ver nem o que está sob sua mão.
...
Há muito, muito tempo atrás, os Deuses dos Deuses moram numa época muitíssimo mais avançada que a nossa, de modo que não podemos conceber a milésima parte de sua grandeza, mandaram chamar Ptah, o servo deles. Deram a ele uma bacia da Vida, que, embora ele a esvaziasse, sempre estaria cheia; disseram-lhe que ele deveria ensinar essa Vida a adquirir sabedoria, até que ela se tornasse a chama pura do espírito com toda experiência. Designaram-no chefe supremo da Terra, um local de areia inanimada e rochas sem vida.
Então o Ptah da Terra espalhou a Vida em todos os lugares; as montanhas começaram a sentir o sol que ressecava suas encostas, e os vales conheceram o frio intenso de uma noite invernal. E chegou o tempo em que essa Vida retornou a Ptah; e de sua bacia ele ouviu uma voz frágil que disse: 'Agora já conhecemos alguma coisa do calor e do frio. Vamos continuar'.
Então Ptah revestiu as montanhas de árvores e cobriu os vales com gramas e flores; neles ele derramou sua bacia. E a Vida aprendeu como as plantas entranham suas raízes no solo em busca de força para expandir suas flores ao sol; como algumas envolvem as rochas com seus galhos tenros, e outras lançam suas sombras à beira dos lagos. Mas tudo o que ganhavam, elas repartiram entre si, de modo que a folha de grama sabia como os fortes ventos agitam os ramos de uma árvore, e o cactos assustador compartilhava da gentil ternura do musgo.
Uma vez mais a vida foi preenchida pelo retorno da Vida. Agora ela já falava com voz mais forte; ele disse: 'Aprendemos nossas lições com as plantas; agora queremos corpos que possam movimentar-se para buscar nosso destino mais depressa'.
Ptah fez animais na Terra. Primeiro os mais simples, como os vermes e as lesmas; depois, os corpos das lebres, antílopes, leões, pássaros e peixes.
Novamente a Vida retornou e disse: Agora somos sábios; podemos cruzar em deserto à noite; encontrar água e abrigo para nós mesmos; andamos por toda a Terra e aprendemos uma grande diversidade de coisas. Torne nossos corpos dignos de nós mesmos.
Ptah respondeu: Enviei vocês em forma de rochas, plantas e animais. Vocês voltaram para mim compartilhando a memória e as experiências uns dos outros, como também a amizade do crescimento, a qual ainda têm como animais, embora almejem perdê-la. Agora darei a vocês corpos como o meu, e pela primeira vez dirão: - Eu sou - E ao dizer isso estarão dizendo:- Eu sou sozinho. - Não poderei mais conduzi-los em seus caminhos. Agora deverão iniciar uma longa jornada que não terá fim até que possam me encontrar, não como criador, mas como irmão.
A Vida disse: Nós requeremos essa oportunidade esse direito de caminhar até sermos seus irmãos.
Assim Ptah criou o homem.
O homem caminhou sobre a Terra, e alegrou-se com isso. Os vales gramados eram suaves sob seus pés; o olfato deliciava-se com a essência das flores, e o sabor das frutas era agradável ao paladar. quando fazia calor, ele descansava à sombra, e as gazelas vinham e se aninhavam em suas mãos; os leões passeavam com ele à margem dos riachos; e ele testava sua velocidade com as corças. 
Mas as palavras de Ptah continuavam ecoando em seu coração, dizendo: Eu sou; eu sou sozinho. Até que sua solidão o deixou com medo. Ele se afastou dos lugares tranquilos da Terra e correu desesperadamente em busca de um fim para sua solidão, e em sua angústia gritou para os deuses.
O grande Min o ouviu e desceu à Terra. Fez o homem adormecer, e enquanto ele dormia, disse: Você não andará mais solitário... Agora você é homem e mulher, e os dois prosseguirão sua jornada juntos. Aos dois darei o poder de com seus corpos fazerem outros corpos, os quais em seu retorno abrigarão a Vida de Ptah. E quando vierem seus filhos, cuidem deles, assim como o criador cuidou de vocês'.
De cada animal, fez também um par. E rapidamente fez tudo progredir, com crianças para alimentar, abrigar e proteger. Até as plantas compartilharam deste presente e entranharam suas raízes mais profundamente no solo em busca de água para amadurecer suas sementes.
Naqueles primeiros tempos, todas as coisas vivas conheciam seu parentesco, e numa noite fria uma pequena lebre podia se aquecer deitada junto a um poderoso leão, e os homens agradeciam às plantas e às árvores que os protegiam e lhes davam seus frutos.
Pois naqueles dias que se foram, quando a Terra era jovem, ninguém tinha esquecido seu criador."


Extraído do livro Faraó Alado, de Joan Grant, publicado pela editora Pensamento. 
A autora declarou que entre as regras de conduta que recebeu de seus pais quando criança, estava a de nunca fazer menção em público de suas vidas passadas. Em 1937 ela escreveu o fascinante romance mediúnico Faraó Alado, situado no antigo Egito durante a I Dinastia.

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