17 maio 2012

Relógio

Perolim perolam, o pescoço enrolado em lã. 
Aguardo passar a trilha apertando o freio, determinada mas cônscia da falsa proteção da ilha. Automóveis de olhos amarelos e vermelhos tão acesos, apáticos ao ar gelado do exterior escorregam com trezentas setas ventando.
Lava quente de metal prateado recém expelido das garagens, dos escritórios, das lojas e dos negócios...E as motos; pássaros magros de cabeças redondas sustentadas por pescoços reluzentes e negros, histéricas grasnam buzinas, desesperadas procurando o pouso.
Petapi pariri-tiri, o queixo quente escondido na gola repica o conforto das luvas vermelhas e leves, luvas presente que escondem as mãos pintadas e ativas, mãos de guerra e paz de pintar paredes salpicadas talvez da salsa recém cortada. Viva.
Sendo inverno, final de tarde, por-da-chuva -pode chover, é claro - é Sampa!, acaba a jornada e as ruas usam perfume. 
É com o pão de queijo e o café com leite que o mundo diurno começa a se aninhar: 
-Boa noite colega, boa noite seu Afonso, dona Laurinda, bela, querido, não, chega amanhã, mas tem esse outro que está fresquinho.
Vejo e passo; ombros eretos e mãos vasculhando bolsos, retirando papéizinhos verificando os gastos nas filas dos caixas nas padarias em colorida ordem,  prosaica e enternecedora...agradeço a nuvem que me trouxe aqui. 
Eu sinto 
quando relaxo 
ao lado da escola os ventos de açúcar queimado atiçando os narizes gelados, que redobram minha alegria em ver pipoca servida por carrinhos iluminados.
São Paulo pede aos homens por barriga quente antes da soneca nos ônibus nos quais as penteadas mulheres sacudidas apertam sacolas no colo, cochilando antes da segunda jornada que vem antes da noitada.
Isso, hoje não vi, mas sinto assim, uma vez estive lá e eles nem deram por mim.


Foto, fiz no Catavento Cultural - Palácio da Indústrias


Como um feixe de trigo...Gibran Khalil; o que faz o Amor, no título da publicação e aqui:http://youtu.be/yxUHG-4DUw0

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