17 maio 2012

Cavalheiro



Um professor pode ser cavalheiro, uma atriz pode ser uma dama, porque não?
Um professor pode ser uma diva, uma atriz pode ser um diva também. 
Ser diva, é ser uma pessoa querida, atenciosa,que brilha e marca por onde passa, é uma pessoa que todos gostam, diz o dicionário. O Kati iluminava e apaziguava durante suas aulas, e não havia resiliente que permanecesse intratável quando ele perguntava com interesse verdadeiro: -O que está havendo, você precisa de ajuda, se não, pode nos ajudar aqui com este assunto? Tive aulas com ele por três anos. José Carlos Corrêa, o Kati, lecionava Geografia, História, EMOCI e Religião, então com ele falávamos de tudo, ele falava baixo e suavemente com voz de arroio, e eu me encantava mais pelo efeito que ele fazia na turma geralmente indiciplinada quando outros professores estavam com a batuta. 
Era o regente, acredito que da maioria das turmas. 
Um cavalheiro...durante uma de suas aulas discutíamos os grupos étnicos que colonizaram o centro do estado do Rio Grande do Sul, e quando cada um falou sobre sua origem ancestral, a brincadeira surgiu; Kati era o único afro-descendente da cidade, será? 
Contei que minha melhor amiga da primeira série, uma que tinha trancinhas duras e modeláveis, que eu tentava imitar exaustivamente sem sucesso, era negra - a Fátima - Kati sorriu daquele jeitinho amável e disse: -Fátima é minha minha filha, e então tu estudastes a primeira série no Ademar Porto Alegre. 
Kati, meu melhor professor, Fátima minha melhor amiga, empatia, traço familiar -coisas séria! 
Hoje estou pintando um Jesus sorrindo, encomenda de uma médica holística. Enquanto pintava, a tevê gritava noticiário, nos intervalos a voz de uma actriz conhecida dizia: Eu sou uma atriz, é minha profissão, não sou uma dama, ou uma diva, sou só uma atriz. E em cada intervalo esta mensagem martelava. 
Do que ela tem medo, o que ela não quer ser, que imagem lhe causa repulsa? 
Juntei mentalmente ao clip de uma música  que recebi para apreciar, nele uma atriz representa uma adolescente cambaleante com uma garrafa de vodka na mão e um cigarro entre os dedos bebia no gargalo por haver sido rejeitada pelo rapaz que gostava. Não sei... 

Foto: professor José Carlos Correa, e eu.
Este texto já publicado no Flor Amarela em maio de 2011 

No título da postagem, Elis fala que comum é a casa.

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