04 outubro 2011

Liberdade, Igualdade, União e Fraternidade

     Os Reis de Portugal e Espanha não se entendem, nunca se chega a conclusão sobre os limites da Colônia de Sacramento. Napoleão obriga a Espanha a declarar guerra a Portugal, e para os Capitães do Rio Grande do Sul a situação fica impossível de administrar. 
     Tomando a iniciativa, se apossam dos territórios da Missões Jesuíticas. Vem o General Lavalleja, em 1825, e invade a Província Cisplatina, anexando-a a Argentina. Em 1828, Frutuoso Rivera a toma e a denomina República Oriental do Uruguay. 
     No Rio Grande do Sul, nas estâncias de charqueadas grassava o desespero. Os rebanhos estavam esgotados durante os puxa-e-frouxas e não havia nenhuma indicação de que o Império viesse a indenizar os estancieiros, que afinal mantinham as tropas e ainda eram taxados em altos impostos na exportação do gado vivo, no peso do charque, erva mate, gordura e sebo. 
     O efeito dominó vogava solto; a taxa da importação do sal, essencial para a produção, aumentou. Os liberais brasileiros influenciaram o comércio a comprar charque cisplatino, já que o RS usava trabalho escravo, e o charque estrangeiro custava mais barato. Nessa época a população do Rio Grande do Sul era de aproximadamente quatrocentos mil viventes, entre brancos, índios e negros. O estado  era composto por 14 cidades, e apesar das recentes guerras mantinha-se trabalhando para se reerguer economicamente. 
     O presidente da província era nomeado pelo Império, e não fazia mais do que meter os pés pelas mãos, aumentando as dificuldades. Assim, coloque-se uma pitada de rixa ferrenha entre o Marechal do Exército Imperial, Sebastião Barreto Pinto, e o Coronel da Guarda Nacional, Bento Gonçalves, e a válvula da caldeira está prestes a explodir. Acrescente os ideais de Liberdade, Igualdade, União e Fraternidade, aguerridamente difundidos pela igreja católica e as sociedades secretas, e o sonho republicano se instala na província, que avidamente agarra-se às idéias do cientista intelectual, o Conde Tito Lívio Zambecari nas letras, e o Coronel Bento Gonçalves, como senhor da guerra.
     Lutariam para concretizar a filosofia dos Carbonários, que recentemente  haviam sido excomungados pela Igreja e condenados à morte pelos seus governos na Europa.
     Iniciava-se a Revolução Farroupilha, que aniquilaria milhares de vidas durante os dez anos que durou.



     Em 1839, os irmãos  Felipe, Johannes Valentin e Pedro Wagner, se embrenharam nas matas da região onde mais tarde se formaria o município de Taquara, no RS. Escapavam dos soldados farroupilhas. Se estabeleceram na localidade de Rio da Ilha. 
     Os rapazes eram filhos de Philipp Anton Wagner e Katharina Holzenthal, tiveram seis irmãos, mas na viagem de vinda da Alemanha para o Brasil morreram os três menores. 
     Chegaram a São Leopoldo no dia 27 de fevereiro de 1827, e iniciaram sua vida no Brasil, cultivando a terra e criando gado. Sua propriedade ficava em Lomba Grande, nos arredores de São Leopoldo.
     Em 1835, iniciada a Revolução Farroupilha, os imigrantes alemães ficaram sob fogo cruzado; fidelidade ao Império, ou independência com os farrapos. A maior parte dos colonos manteve-se fiel ao Império, o que angariou a antipatia e hostilidade dos revolucionários: "Em um dia frio e sinistro de 1839, já no quarto ano da Guerra dos Farrapos, um dos regimentos de Bento Gonçalves acampou na Estância Miranda. Todas as casas e galpões foram ocupados pelos soldados, a esta altura, maltrapilhos revolucionários. O gado foi sacrificado e charqueado, tudo era confiscado pelas tropas: roupas, agasalhos e comida."
A Estância Miranda foi ocupada pelo regimento comandado pelo Capitão Soares. Os irmãos Wagner foram arregimentados. Felipe estava com 26 anos, Johannes Valentin estava com 23 anos, e Pedro, 19 anos. No dia em que o Capitão Soares deu ordem de levantar o acampamento, uma arma que o pai dos rapazes trouxera da Alemanha, apareceu ostensivamente, foi imediatamente confiscada e o portador degolado sumariamente. Durante o tumulto que se seguiu, os irmãos fugiram e esconderam-se nas redondezas em companhia dos amigos da família Wilk e do Negro Onofre. Para vingar a morte de Philipp, tocaiaram o regimento do Capitão Soares, que ao apontar na curva de uma estrada foi recebido por uma saraivada de balas. Na emboscada alguns revolucionários foram feridos e um cabo de guerra foi morto. Desse momento em diante os irmãos foram perseguidos como criminosos de guerra.
     Depois de seguir a margem do Rio do Sinos por semanas, chegaram em Rio da Ilha. O professor Benno Wagner, autor de "Volta às Raízes", escrito com a colaboração dos relatos dedo seu tio-avô Antônio, declara:"Quando eles começaram a vida nos matos de Rio da Ilha, faltava tudo, tudo mesmo. Fugidos da estância Miranda, estavam em constante ameaça pelos  soldados do Capitão Soares. O bisavô Felipe e seus irmãos iam o mínimo possível para São Leopoldo, apenas para comprar as coisas mais necessárias, no máximo uma vez por ano.
     Durante as cheias do Rio dos Sinos, juntavam as toras de madeira que haviam armazenado durante o ano e levavam até São Leopoldo para vender, amarravam em balsas e navegavam rio abaixo. Assim adquiriam ferramentas, munição e sal.
     Em 1846, começaram a chegar as primeiras levas de colonos, que foram se agrupando em volta das casas dos Wagner, expulsando os índios cada vez mais para a densa floresta..."
     Em 1865, com o início da Guerra do Paraguai, os três irmãos se alistaram ao exército brasileiro. Felipe Wagner estava então com 53 anos, serviu como canhoneiro e fazia parte da artilharia  do décimo Primeiro de Caçadores do Segundo Corpo do Exército, comandado pelo Visconde de Porto Alegre. 

     Durante os enfrentamentos com as tropas de Solano Lopes, Pedro acabou ferido e morto. A casa que Felipe construiu quando voltou da guerra existe até hoje.

     Quando a Revolução Farroupilha (República Juliana), foi derrotada pelas forças do governo central do Brasil, Horácio Pereira Soares acompanhou a retirada de Laguna liderada por Canabarro e Garibaldi. Esta retirada ocorreu em fins de 1839 e aconteceu por terra, pelo interior de Santa Catarina. 
     Passaram por Passo Fundo, então um vilarejo, desceram a Serra das Antas, e foram rumo a República Oriental do Uruguay onde Garibaldi se engajou em outra revolução. Horácio ficou no Rio Grande do Sul, aonde veio a se casar com Maria José dos Santos. Os relatos dão conta que Horácio era um homem grande, muito peludo e forte, capaz de nadar carregando outra pessoa nas costas. 
     Ele e Maria José tiveram doze filhos naturais e mais doze filhos adotivos. 
     Horácio, apesar de retirante de Laguna, não era necessariamente de lá, já que as tropas de Canabarro e de Garibaldi foram do Rio Grande do Sul para Santa Catarina. É provável que tenha nascido em Livramento, onde veio mais tarde a sentar chão. 
     Seu registro não foi encontrado no Bispado de Tubarão/SC, nem no Bispado de Bagé/RS, e tampouco no de Taquarembó/ROU(República Oriental Del Uruguay).


Fotos: 
1 -paisagem da web 
2-Soldados brasileiros na Guerra do Paraguay 
3-Retrato do Visconde Porto Alegre, óleo sobre tela que pintei em 1997, sendo inaugurado por seus descendentes Flávia Silveira Martins e primo, no 27 GAC de Ijuí/RS.
Dados extraídos do Jornal Velho Novo Mundo, gentilmente fornecido pela Irmã Sibylla, administradora da escola Santa Terezinha de Taquara/RS, e complementos da Web.


Clique no título para chegar à Sinfonia Platina de Marcus Viana

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