A minha Pachamama, escultura que recebeu o Prêmio Criatividade no Salão de Verão da Galeria Mali Villas Bôas, em janeiro de 2010
MESMO QUE VOCÊ NÃO TENHA ASSISTIDO A 1ª PARTE, PARTICIPE DA 2ª PARTE DO CURSO COM O RABINO NILTON BONDER!
Deitava no chão ao lado da máquina com a cabeça no pedal enquanto a mãe ajeitava a costura. Uh, mas que helicóptero fantástico, aquela correia impulsionava! E o pé com joanete da minha mãe? Que engenhosa estrutura rica em tendões e formas, palmeava o local onde deveria pedalar e encontrava a minha cara: Tira a cabeça daí, menina tonta!
Ela fazia roupas para mim. Com o tempo aprendi a reconhecer o processo, era aquele costurar ou crochetear intenso para no final me levar n'algum lugar em que as amigas me pegariam, me rodariam ergueriam minha saia para ver o acabamento das costuras. Sabia, quando ela começava a dormir mais tarde para bordar três carreiras de viés no meu vestido novo, que eu deveria armazenar um saco de paciência para o dia seguinte.
A vó costurava suas roupas intimas e me ensinou como fazer as minhas, minha mãe, porém, nunca permitiu que eu usasse roupa íntima feita em casa, muito menos feitas por mim entre os cinco e nove anos... quando estávamos sozinhas a vó me dizia que se uma mulher fosse descente, poderia andar sem calçinha, desde que usasse sempre a saia debaixo. Eu jamais perguntei como andava uma que não fosse descente, mas a minha curiosidade ficou reservada numa nuvem carregada de perguntas, sempre que esta nublado, eu lembro...a vó também dizia que aos sábados é bonito uma mulher soltar os cabelos e cantar músicas de louvor ao criador, mas muito discretamente...
A vó ficou com a vista curta, pedia que eu colocasse a linha na agulha, mas a minha vista também era curta para buraco de agulha, funcionava melhor para ver ranhura em folhas e os poros nos retalhos de couro, ela achava uma pena, e ficava a lamber o fio e tentar, até acertar, Eu dava de ombros...não vou costurar quando crescer, mesmo...Ainda assim ela avisou à todos que seu baú de miudezas era meu quando morresse, está ali, me olha do corredor, o baú que meu bisavô fez para ela guardar seu enxoval de moça.
Ela tinha dor de cabeça de raiva d'alguma cliente que queria obrigá-la a desmanchar justamente o que ela pensava ser o toque especial na peça que confeccionara. Meu pai chegava do trabalho, fazia o mate e ia sentar ao seu lado na cama, dizia para ela que tal fulana devia estar acostumada a vestir-se com sacos de batatas, quando via uma roupa de qualidade, não reconhecia. Ela que não agüentasse desaforo de ninguém, se quisesse podiam até se mudar daquele lugar, mudar de ares...Minha mãe melhorava das dores e cozinhava jantares divinos após estas conversas.
Na última terça-feira o grupo de contação de história Era Uma Vez, do CCJ, reuniu-se para assistir a treinanda Livia Pelegrini em sua prova para admissão ao grupo. Lívia, como eu, que passei pela prova no mês passado, estava acompanhando a rotina de reuniões e visitas do grupo de voluntários às instituições, desde o ano passado. Foi aprovada com louvor e recebeu seu par de camisetas das mãos de Malú e Ruth. Dois eventos importantes na mesma sema
na na vida de Lívia, que no sábado, casou-se em cerimônia íntima no interior do estado. Para a sua prova, Lívia escolheu e contou lindamente a história da mulher que transformava palha em ouro. Parabéns à simpática e delicada Lívia! Malú, que além de contadora de história é professora e dançarina de dança do ventre e danças circulares, ao entregar as camisetas à Lívia na cerimônia de terça-feira passada, entrou em um período de breve licença nas atividades do Era Uma Vez, para dedicar-se a uma turnê de apresentações de dança em cidades da França e Alsacia. Viva à querida e dedicada Malú, uma artísta incansável. A reunião formatura foi uma avalanche de emoções para o grupo. Tema que lutava bravamente com uma doença forte, retornou vibrando sua história de regeneração celular e emocional, o início da cura! Bons ventos! Também trouxe notícias de seu pai, o veterano contador de história, Isaac, o sempre adorável n
arrador do Centauro Indeciso, que afastado do Era Uma Vez, estipulou junto ao grupo de caminhadas da praça próxima da sua residência, que uma vez por semana chegarão mais cedo para ouvir as histórias de Isaac.Tema e suas boas novas foi saudada com carinho e lágrimas e na foto cor-de-rosa, explica à Norma sobre os conteinners de alegria que esta vitória trouxe. Como se não bastasse, Marina, que sofreu um atropelamento no início do ano, avisou em circular, que obteve liberação médica e esta retornando á toda força. Enquanto isso, Terezita não estará coordenando na próxima reunião, pois parte para Porto Alegre para estar um tempo com sua mãe que tem 96 anos de idade. Boa estadia para Terezita, recuperação para Tema e Marina, felicidades no casamento para Lívia, e que Malú encante os franceses e Alsacianos com sua arte. Faltou algo? Faltou escrever um conto de trinta páginas sobre a última reunião. Mas é porque acompanhar tudo isso, é uma satisfação inenarrável...
Hoje é aniversário da Delusy, colega de contação de história do grupo Era Uma Vez do CCJ. Delusy é esta gata de botas marrom na foto acima, compenetrada no exercício proposto por Terezita, a coordenadora do grupo. Delusy recebeu todo carinho do grupo pelo aniversário, e a filha veio de uma terra muito, muito distante para abraça-la e certamente para ouvir as histórias encantadoras que a mãe conta, como a cantadinha em rima, da vaca que subiu no telhado: veio a reportagem, vieram os bombeiros, a cidade parou para ver a vaca que não queria descer... Parabéns Delusy, vamos gravar essa para compartilhar aqui?