25 janeiro 2011

A Cara de São Paulo

Isac Patlajan é contador de história voluntário. Junto com a esposa Cira, é um dos fundadores do grupo Era uma Vez do Centro de Cultura Judaica.
O grande Isac levanta-se para contar uma história: um albatroz que abre as asas e quem viaja é o expectador. 
Eu fico com palpitação. 
Que novo enigma irá propor este filósofo mestre em contar Jorge Bucay
A primeira que ouvi dele foi O Centauro Indeciso – eu precisava me decidir! Depois veio uma sobre A Vila dos Poços que secaram por permanecerem superficiais ou se entulharem de traquitanas desnecessárias; me aprofundei rumo a fonte, precisava entrar em contacto com a questão nuclear. 
A última que narrou foi no encontro do final do ano em uma recepção belíssima na casa de seu genro Isaías e de sua filha Thema, contadora de história do Era Uma Vez também. Contou sobre o homem que encontrou o maior brilhante do mundo, para não ser roubado não o lapidou e deixou-o jogado entre as pedras comuns...ele sabendo onde estava lhe bastava...o maior diamante do mundo...Isac, Isac!  
Thema contou ao grupo numa reunião em que o pai não esteve presente, que Isac transpira histórias, reúne o grupo que caminha na mesma praça e uma vez por semana conta quinze minutos de história..
Ele fez aniversário ontem, dia 24 de janeiro. Parabéns ao mestre Isac, que humaniza São Paulo.

Maicom fará aniversário no próximo dia 27, conheço este rapaz sensível, bonito e forte desde antes de nascer. Já houveram diferenças entre nós, alguns desencontros e muito crescimento, amadurecemos juntos.
É meu filho mais velho. 
Hoje editor de vídeos. Tatuador aos dezoito, vocalista de banda de rock aos dezesseis, poeta bem criativo aos quinze; aos treze já era companheirão para qualquer situação, extremamente responsável. 
Aos dez era construtor de cabanas e carros de rolimã, aos nove, especialista em contos sobre a mãe: "Descreva sua mãe", pedia o exercício escolar: “Minha mãe é desenhista, ela adora cuidar do aquário e organizar a casa, mas se tem que organizar muitas vezes seguidas fica furiosa!”
Aos seis, alfabetizado pelo questionável método construtivista respondeu em um questionário:
Você tem animalzinho de estimação? Qual?
-1 Kão. Kóker.
O que ele come?
-Koker koisa!
Em 2010 fez este filme sobre meu trabalho: http://www.youtube.com/watch?v=-5XZ_D8KQ_0  iluminou, dirigiu, filmou e editou, ah, me ensinou a postar no you-tube. 
Agora quero outro filme, mas hoje em dia somente entrando na fila de projetos.
Ama São Paulo que lhe deu a esposa, Marina Galafassi, que lhe deu o filhinho Davi, o bonito garoto nascido neste último dia 22 de janeiro com 3.100kg, na Maternidade Santa Joana, na São Paulo que ensinei-o a amar desde menino.
Um dia moraremos em São Paulo, nos olhávamos sonhadores, acalentando o projecto.

Tetsunosuke Ohata tem 87 anos, veio do Japão com a família em 1928 no navio Kanawa, em uma viagem certamente braba para uma criança de quatro anos de idade. Desembarcaram no Porto de Santos e foram direto para uma fazenda de café no interior de São Paulo. Logo que chegou ao destino, adoeceu e permaneceu febril por dois meses entre a vida e a morte. Quando recuperou-se, a família, surpresa, percebeu que ele havia esquecido o período da primeira infância no Japão. Abandonaram a fazenda cafeeira e foram trabalhar por conta própria na agricultura. Tetsunosuke casou-se com Miharu e tiveram oito filhos, é um dos fundadores do Sindicato Rural de Araçoiaba, formou os filhos enquanto cuidava de suas plantações, participando e desenvolvendo projetos comunitários. Da sua produção agrícola surgiu a resistente cebola batizada com o nome da família. Recentemente retornou ao Japão acompanhado pelos filhos, Jaime e Nanci. Reencontrou a casa familiar totalmente preservada e os primos que moram nela, declarou encantado apontando para o silo de armazenagem de grãos com tratamento anti-incêndio e enchente que integra o conjunto arquitetônico:
- Havia um barco pendurado ali, naquela parede!
O primo com quem trocou correspondências a vida toda respondeu que sim, que recentemente tiraram o barco dali. O homem é como uma cebola, tem muitas camadas. A memória não se fora com a febre da chegada ao Brasil, apenas se escondera em uma camada interna. O Sr. Tetsunosuke Ohata faz São Paulo!

Quando a mãe partiu acompanhando o pai em uma longa viagem de missão humanitária, foi deixado com o irmão um pouco mais velho num internato nos Alpes.
Discordando da solução encontrada pelos pais resolveu protestar com auto-mutilação. Munido de uma tesoura ensaiou em um dedo, outro, mas resolveu tentar com o que carregava entre as pernas, que parecia não ser tão útil...tinha quatro anos de idade.
Um colega de quatro anos e meio, mais experiente e sabedor das funções anatômicas, alarmado dedou o revoltoso que foi posto de castigo por uma noite, ou algumas horas - o que dá no mesmo nessa idade - em um sótão repleto de aranhas.
O empresário Jorge Magnus Landmann, casado há 32 anos, pai de dois filhos, é avô orgulhoso de três netos.  
Na época do internato, após o castigo começou a apreciar os esquis, agora retoma o jogo de ténis que em função da frenética vida profissional deixou de lado há alguns anos.
Conheci-o pessoalmente na cerimônia de abertura de uma exposição no Museu Brasileiro de Escultura, em 2008. 
Assumiu a presidência da entidade livrando-a de uma situação caótica gerada pela inaptidão administrativa da presidência anterior.
Queixa-se das dificuldades da administração, mas apesar delas conseguiu, com sua equipe, dar vida ao MuBE e torná-lo um pólo de irradiação da cultura contemporânea mundial, para tribos de todos os estilos. 
Jorge Landmann é um paulistano, construtor e realizador, administra superando limites e quem conhece sua história de triscas eras, sabe que é capaz de qualquer sacrifício para honrar compromissos.
Hoje em dia, graças aos justos correctivos das freiras dos Alpes, usa métodos adequados e seus intentos são construtivos, um líder capaz de suportar privações para concretizar seus projectos.
Jorge Magnus Landmann faz São Paulo.

O senhor Alvarício morava em Minas nas terras de sua tia. Seus pais plantavam fumo e cana. Sua tia era uma negra alta que fumava cachimbo. Ela tinha casa de comércio no entroncamento dumas estradas muito importantes.O senhor Alvarício e eu concordamos que quando crianças, ver os grandes cozinhando o caldo de cana para virar melado era como presenciar uma espécie de magia sendo conjurada, a magia da doçura. 
No RS eu os via fazendo melado, ele em Minas, pé-de-moleque.
No Rio Grande do Sul os grandes reclamavam pelo resto da vida da trabalheira, a fervura da pasta aquecia até o mato onde eu corria com as primas na chuva...que ninguém jamais fez melado em dia quente, pois loucura tem limite!
O senhor Alvaricio, em Minas não tinha tempo para correr na chuva, ele disse que trabalhava desde cedo na roça. Ainda ajudava no comércio da tia... Na sala onde ela guardava o fumo as paredes eram pretas, impregnadas de alcatrão.
Só de falar seu Alvarício parecia  sentir o cheiro daquele fumo - sem veneno nenhum! O engenho foi definhando, se fosse hoje era uma beleza, veja o quilo do açucar mascavo a doze reais dona Giane?!
Então ele cresceu e veio para São Paulo, veio morar com uns tios e trabalhou num aviário - mas ô coisa mais trabalhosa e fedida é galinha. Dá um incomodo. Então aprendeu o oficio de pedreiro e foi se aprumando. Agora estava morando pros lados de Perús, que a casa da Politécnica deixou para o filho solteiro. O casado é formado em programação de computadores, viaja, se diverte e vai cada vez melhor na vida.
Em Perús estava agradável de morar e uma sobrinha cuidava da sua esposa quando ele saía, ia ao médico, ou trabalhar.
A esposa está doente, vive a tentar fugir, deu Alzheimer nela e se tornou uma pessoa bem nervosa.
Ele ficou doente também, mas fez quimioterapia e estava se recuperando, voltando a ter cabelos, só era bem desagradável sentir enjoo depois das sessões.
Seu Alvarício era testemunha de Jeová, no meio da tarde eu servia-lhe um café e pamonha mineira, guardava-lhe  doce e da salgada, gostava de ouvir sobre as leis da religião dele.
Ele sabia muito do mundo, tinha flexibilidade e benvolência para julgar os estropícios que comentávamos. Trabalhava para a imobiliária. Na primeira vez que veio logo após a mudança não encontrei a chave para abrir a porta, ele falou lá que eu talvez tivesse ficado com medo de abrir a casa por ele ser negro, quase morri de vergonha.
Na segunda vez, levei-o para ver a Nossa Senhora Aparecida padroeira do Brasil, pretinha da Silva, que foi a primeira moradora da casa que se instalou na capelinha, no melhor lugar da cozinha, vendo tudinho, cuidando e abençoando também... Seu Alvarício se amansou, pintava, consertava e proseava.
Quatro anos... Na última vez que veio trouxe ajudantes, foram seus aprendizes, quando precisava por muito trabalho, ou agora que andava fraco, o socorriam.
Seu Alvarício contou que na época que veio para São Paulo ainda passava tropa de gado na Rua San Gualter, que as Marginais não eram asfaltadas e o pessoal tomava banho no rio Tietê.
Ele costumava dizer: São Paulo, sabendo viver, não tem melhor!
E ajudou erguer São Paulo, na sua longa e honesta vida  

Para ver o vídeo cara-música-bandeira de São Paulo, clique aqui. Presente recebido do Embaixador da Paz: Édison Pereira de Almeida, paulistano radicado na Ilha da Madeira, no dia em que sua cidade natal comemora aniversário.http://www.youtube.com/watch?v=jFAL4mnp_OA


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