19 outubro 2015

A Conspiração Franciscana - John Sack

"Ela crescera no interior, numa castella, decerto rodeada por um vilarejo sem cultura. Ele, no porto comercial de Ancona e na atmosfera de Paris. Mas ele também conhecia os vilarejos. Certa vez, viajara pela região atrasada ao sul da Úmbria, desembarcar em Paris,
Por dois meses, tinha perambulado por vales calorentos e estreitos até  chegar a Assis, mais so norte. Quando passava pelos vilarejos minúsculos, os olhares sombrios das mulheres o seguiam por trás das portas abertas e observavam a parte debaixo do corpo dele, como se medissem sua masculinidade. caso ele se voltasse com um olhar zangado, elas escondiam o rosto nas mãos e espreitavam-no entre os dedos. "Não aceite nada para beber dessas mulheres", diziam os anciãos dos vilarejos, em tom de advertência, "nem vinho, nem um copo d'água". São bruxas, todas elas, e misturam poções do amor na bebida sem que você perceba." Os homens então aproximavam seus rostos amarelados e enfermos do dele, e falavam, cuspindoo em sua orelha: "Uma mistura de sangue mesntrula com ervas." Eles também o preveniram para não dormir nas grutas fora dos vilarejos, pois eram habitadas por gnomos, as almas penadas das crianças que tinham morrido sem batismo. Todos os homens sonhavam em capturar uma dessas criaturas pelo capuz vermelho, é claro, para força-la a mostrar-lhes tesouros escondidos. O jovem frei Conrad, porém, ficaria mais seguro dormindo na igreja local. Ele havia parado em muitas cidades assim, e as mulheres sempre corriam até a igreja para confessar os pecados em seus vários dialetos, argumentando que não podiam confiar  no padre local as intimidades que lhes passavam na alma.
Tanto quanto as podia compreender, essas mulheres consideravam o amor carnal uma propensão natural, a que nenhuma força de vontade, boa intenção ou castidade podiam resistir. Se um homem e uma mulher se encntrassem sozinhos em um local afastado da vista dos outros, nenhuma força dos céus e da terra conseguiria evitar que copulassem rápido e sem dizer palavra, como acontece quando um animal macho encontra uma fêmea no cio - e aquelas mulheres pareciam estar eternamente no cio. Ele percebia o desejo mal reprimido nas palavras delas, mesmo durante a confissão; no exalar lento no respirar terminando com um suspiro prolongado. desconfiava que elas, na realidade, se confessavam com o padre do vilarejo - e com assiduidade -, mas que procuravam o padre, como agora vinham até ele, para algo além do perdão de seus insaciáveis desejos. E se Amata tivesse crescido num ambiente assim, de paixões descontroladas, com as mesmas necessidades primitivas, num mundo em que até o mais baixo dos códigos de conduta moral não vigorava?
Não parecia muito provável, Conrad concluiu. Ela pertencia à pequena nobreza e já mencionara a religiosidade do pai. Não obstante, alguma coisa devia ter acontecido para destruir a 
inocência de sua infância.
Finalmente, sentou-se na cadeira diante dela."

Trecho extraído do livro A Conspiração Franciscana", iniciei sua leitura quando ainda morava em São Paulo, mas os trâmites da mudança interromperam a leitura. retomo agora, quase dois anos depois e outros livros intermeando-o. E não nega fogo.
Chega certeiro, o I Ching, e compartilho trechos saborosos como este, com Joseph e Camille. E contigo.
A Conspiração Franciscana trata de forma romanesca, mas empregando dados reais, de um período complicado, repleto de aceleração como ocorre com algumas fases da história do desenvolvimento humano, foi escrito por John Sack, e publicado no Brasil pela Sextante. Adquiri-o em um sebo na Av. São João, em São Paulo

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