27 abril 2010

Joseph

Joseph - Cavalheiro e Repórter Amigável
Clique no título para abrir o vídeo de Elton John - Blessed

26 abril 2010

JUDAISMO E O MASCULINO - A Bênção Roubada, com o Rabino Nilton Bonder

Após estudarmos o Feminino no judaísmo associado à Sabedoria (Chochma) identificando sua heroína maior, vamos estudar a Estruturação (Bina) buscando o herói da estrutura, o healer, aquele que repara a desarmonia. Utilizando o mito da separação e do reencontro entre Jacó e Esaú, vamos refletir sobre a possibilidade de abraçarmos as bênçãos que nos foram roubadas e livrar-nos também dos falsos privilégios e garantias de que nos apropriamos.Texto Bíblico de Leitura
Parte I - Identidade, Primogenitura e Roubo, Afirmações Genesis 25; 27 e 28
Parte II -- A sombra do Pai, Brigando-Abraçando, O quase homem Genesis 29; 30; 31; 32; 33
Nº de aulas: 4 aulas Data: Parte I: 04 e 11/05 | Parte II: 01 e 08 /06 - às terças-feiras
Horário: das 20h15 às 22h00, à partir de 16 anos

MAIO COM VIRADA CULTURAL
Turcos, árabes, sírios, libaneses, egípcios, marroquinos... Os judeus que vieram do mediterrâneo para São Paulo ao longo do século XX são conhecidos por vários nomes. Eles não vieram sozinhos. Vieram muitas vezes com muçulmanos, católicos, maronitas, coptas; todos originários das mesmas regiões e que trouxerem culturas e línguas idênticas, músicas e histórias em comum, danças e festas parecidas. Hoje, alguns deles lêem a revista Chams (antiga Etapas), vão ao Sírio-libanês e frequentam o "Homs", enquanto os outros curtem a Revista 18, fazem exames no Einstein e nadam na Hebraica. Porém eles têm muito em comum. É nessa cultura comum e heterogênea que o Centro da Cultura Judaica mergulha no mês de maio. Enquanto desmontamos "Do Superman ao Gato do Rabino" e "Paulina Pinsky - 20 anos de pintura" (encerrando no dia 16 de maio), e montamos "Portinari em Israel" (abrindo no dia 15 de junho), organizamos nossa programação deste mês ao redor da complexa cultura seferadita e judaica do oriente médio. Vamos virar a noite com toda cidade de São Paulo, na tradicional Virada Cultural, dançando com Sálua, ouvindo contos ladinos, comendo a comida do shouk e ouvindo as músicas do Mawaca, antes de relaxar ao som do alaúde de Sami Bordokan. Durante todo o mês, continuaremos em contato com essa imigração do oriente médio e do mediterrâneo, com leituras e encontros.
Rua Oscar Freire, 2.500 - Sumaré - CEP 05409-012 - São Paulo - SP - Brasil - Fone +55 (11) 3065-4333. Mais informações, clique no titulo ou: http://culturajudaica.uol.com.br

25 abril 2010

Thomas Ashby - Exposição O Gigante da Água

Artigo de Maria Pugliesi. 26 de outubro de 2007. Retirado de Lo Spechio Incerto.
Thomas Ashby

Está acontecendo na sede da Brtish School de Roma, uma exposição detalhista com implicações de documentário histórico importante. Trata-se de "Gigantes da Água”. Os Aqueoduto Romanos do Lazio em fotografias, por Thomas Ashby (1892-1925). Quinto evento dedicado à Ashby, a exposição tem um volume publicado para a ocasião, visando alargar a divulgação dos seus trabalhos de documentação fotográfica, começado em 1986 A exposição se origina da seleção entre 200 imagens armazenadas por Ashby, agora propriedade da Escola Britânica, com a qual o nome do arqueólogo inglês é intimamente relacionado, uma vez que foi estudante e também vice diretor, antes de se tornar diretor da mesma, de 1906 à 1925, anos durante os quais conuziu a instituição de forma a torná-la um pólo fundamental para investigação arqueológica no mediterrâneo. Esta obra de engenharia formam parte dos onze aqueodutos construídos entre 312 AC e 226 AD, totalizando uma estrutura linear de 500 quilômetro de aqueodutos subterrâneo ou elevados., com uma vazão de 1.151.081 mc, servia a Roma Imperial e seu mais de um milhão de habitantes.Deveras importante o título dado por Thomas Ashby, soa autêntico e sugestivo "Gigante da Água". As belas imagens, que parecem aquarelas, em ótimo estado de conservação, retratam um cenário muito diferente do atual, desfigurado pela urbanização selvagem, no qual, o patrimônio histórico foi negligenciado. Fruto da colaboração entre Britsh School de Roma e Instituto Central para Catálogo e Documentação -Região do Lazio E Comunidade de Roma, esta mostra, sobre este monumento histórico, aparece hoje como uma denúncia da degradação da paisagem Lazial e do eu monumento histórico e vem a estimular a conservação de um importante patrimônio hoje, em boa medida, comprometido.

Para ver o vídeo Contruindo um Império clique no título.

Tani, a contadora de histórias

Tani, colega de contação de história do grupo Era Uma Vez. Tani hoje está de aniversário, parabéns, espero que tenha tido a segurança no soprar as velinhas que demonstra ao narrar suas histórias, Tani em pé conta a história do homem que não queria voltar para casa e eu me seguro na cadeira, sua interpretação faz o mundo rodopiar.
Feliz aniversário, Tani!
Clique no título, Tani, tem um vídeo de orquídea para ti!
Claudia disse...
Tani vive as histórias que conta e é por isso que
conta tão bem, pois que vive tão bem.
Encanta as crianças e os adultos, transformando-se de flor em fada,
de fada em pássaro e vôa livre pelo céu azul.
Viajamos por entre os meandros de cada história,
vibrando a emoção de cada detalhe.
Viva a Tia Lili!
25 de abril de 2010 14:49

23 abril 2010

Joseph - O Repórter Amigável

Estas férias foram normais. 
Normal do bem, entende?
Visitei a exposição da turma da Mônica, que está ótima, gostei mais das escultura do Bidu e do Penadinho, conheci as miniaturas da Turminha Jovem, bonecos colecionáveis que ainda não estão à venda.
Minha irmã, Camille, ficou muito tempo vendo as esculturas, ficou vendo, vendo...até que uma hora me perdi dela.
Encontrei-a no ônibus gibiteca,
Lá ela ficou o resto do tempo, lendo e desenhando, e eu ganhei um gibis.
Ainda bem. Não gastei nada, Fomos de carona com minha mãe que foi assistir a aula do professor Cirton.
O professor Cirton é um artista bem simpático, minha mãe perguntou porque tirei vinte mil fotos dele,
mas ele mudava muito de posição e eu nem percebi que cliquei tanto.
E cada vez que eu clicava, ele fazia cara de ah, quero sair bem na foto e então caprichei!
O mundo é bem estranho. Minha mãe que é adulta tem professor legal,
já eu, tenho que assistir minha professora brigando no celular durante a aula.
E tem que dar graças quando é no celular...
Ela é meio estranha, sabe como é?
Mudando de assunto, uma hora eu estava olhando os peixes na entrada do museu - para ser
bem específico, carpas, e uma garça pousou.
Corri contar para minha irmã e ela não acreditou.
Mas se era um pássaro branco e tinha as pernas beeeem compridas?!...
Esta reportagem eu ditei e minha mãe escreveu, ela perguntou como 
eu quero assinar e escolho - Joseph, o repórter amigável! 
As fotos são minhas também,

Para abrir o vídeo sobre influenza que escolhi, clique no título deste post.
24/08/2009


Luciano Trigo -A GRANDE FEIRA: UMA REAÇAO AO VALE-TUDO NA ARTE CONTEMPORANEA

O peixe para Marina, fiz em óleo sobre tela 2007
...Daí a multiplicação de obras extravagantes apresentadas como relevantes, no Brasil e no exterior: na França um importante museu de arte contemporânea abriga uma exposição de porcos tatuados, do artista belga Wim Delvoye. Já no Salão de Artes Visuais que está acontecendo agora em Natal, um artista fez uma performance em que ficou nu e tirou um terço do ânus – isso num Salão oficial. Ou seja, a absoluta falta de critérios, justificada por um suposto pluralismo pós-moderno, está transformando em arte oficial, acadêmica, uma produção tola, uma releitura tosca de práticas que, na melhor das hipóteses, foram inovadoras 50 anos atrás. Acho que não se trata de levar isso para o campo da ética, até porque o principal argumento de quem defente esse tipo de produção é acusar de moralista e reacionário qualquer tipo de questionamento. Meu propósito no livro “A Granfe Feira” foi investigar um fenômeno sociocultural, não tive a pretensão de fazer julgamentos éticos.Arte não deve ser monopólio de uma elite frequentadora de bienais e feiras internacionais. O discurso sobre a arte tampouco deve ser monopólio de uma elite. Também é preciso parar para refletir sobre o ensino da arte nas universidades. Muitos professores de arte hoje babam para Damien Hirst mas nunca ouviram falar, por exemplo, de Samico, o maior gravurista brasileiro vivo. Numa das centenas de mensagens que recebi, uma estudante de Artes Visuais da UERJ contou que um professor disse em sala que não era mais preciso aprender técnica, pintura, nada. “Deve ser porque ele não sabe pintar”, ela disse. E tem toda razão. Palavras de Luciano Trigo, autor de A GRANDE FEIRA: UMA REAÇAO AO VALE-TUDO NA ARTE CONTEMPORANEA, em entrevista à Leonardo Brandt .
Acesse a entrevista na íntegra, clicando no título desta postagem.

18 abril 2010

Gigino Falconi e Mariantonietta Sulcanese


Na última sexta feira, o Museu Brasileiro de Escultura -  MuBE, engalanou-se ao dar início a mais um notável evento cultural. Estiveram presentes o Ministro Marco Marsilli, cônsul da Itália em São Paulo, e a vice-prefeita de São Paulo, Alda Marco Antônio, bem como inúmeros convidados brasileiros e autoridades italianas da Região de Abruzzo. Todos prestigiando a cerimônia de abertura da exposição dos artistas Gigino Falconi e Mariantonietta Sulcanese. Mariantonietta não pôde vir ao país nesta ocasião; Gigino, a representou com o gabarito de  mestre na abertura da exposição e na palestra do dia seguinte. 
O artista  enfatizou que não concebe classificar estilisticamente sua obra. Ao produzir se deixa conduzir somente pela inspiração, expressando fragmentos do cabedal de conhecimento adquirido sempre que foi impactado pela obra de grandes mestres. 
Gigino e Mariantonietta foram selecionados pela FEABRA para esta exposição, e são promovidos pelo Instituto Italiano de Cultura de São Paulo e pela Direção Artística do MuBE.
Conforme salientou o presidente da FEABRA, o simpático Franco Marchetti: "O Abruzzo, Região dos Parques, é a mais verde de toda a Europa, englobando  desde os Picos do Gran Sasso, até as praias do Mar Adriático, uma terra de grande valorização cultural, na qual estão as raízes da civilização pré-romana." 
A solenidade foi traduzida para pela Presidente do Comitê dos Italianos no exterior, a abruzzense, Rita Blasioli Costa.
Já o presidente do Conselho Regional, Nazario Pagano, escreve no catálogo documento desta exposição, que "A arte abruzzesa constitui uma fonte inestimável de riqueza para o renascimento e a promoção da região, principalmente nos dias atuais, depois do abalo sísmico, que há um ano golpeou duramente a cidade de L’Aquila e sua província." 
O curador da mostra, Olívio Guedes, complementa o catálogo, e sobre Gigino Falconi, escreve: ..."Existe assim o sagrado sobre o profano. Muda sua compreensão, seu entendimento torna-se de qualidade singular. Chega ao êxtase, pois percebe e concebe uma vidência do poder da vida. Cada obra tem uma dimensão pulsional e passional, ela é amoral, esta além de um regime. Seu motivo é puro, é primo, sendo: único." E sobre Mariantonietta, o especialista Olívio, declara: "Mariantonietta Sulcanese realiza em suas obras o mundo simbólico em um status de contemplação." 
No sábado após a palestra no MuBE, a comitiva do mestre italiano Gigino Falconi, liderada pelo Diretor Cultural do MuBE, Olívio Guedes, confraternizou em almoço festivo, após o qual realizou uma visita a renomada Galeria Slaviero e Guedes, instalada em um prédio projetado de forma a aproveitar ao máximo a luz natural. A exposição e a arquitetura foram muito elogiadas pelos visitantes italianos. Jô Slaviero, a sócia de Olívio, informou que o prédio foi construído em 1957, para ser residência de sua família, e foi  projetado pelo renomado arquiteto Miguel Juliano com paisagismo de Waldemar Cordeiro.
A Exposição de Gigino Falconi e Mariantonietta Sulcanese, Tempo de Percepção, permanece no MuBE até o dia 22 de abril.
Foto: Presidente do MuBE, Jorge Magnus Landmann, proferindo descontraído discurso na abertura da exposição de Gigino Falconi e Mariantonietta Sulcanese.
Av. Europa, 218 - São Paulo - Brasil
De terça a domingo das 10:00 às 19:00 hrs
11 2594-2601 - mube@mube.art.br
http://www.mube.art.br

romério rômulo disse...
giane: fique à vontade para publicar qualquer coisa do meu blog. um beijo.romério
16 de abril de 2010 19:43

Romério Rômulo Campos Valadares


“92, manuel morreu de sangue.
simplicidade foi-lhe o coração.
nascido outro, neste espaço bruto
que outro manuel coubesse manuelzão.

declaro, em fé, que manuelzão foi boi.”

Romério Rômulo Campos Valadares
http://romerioromulo.wordpress.com

Lúcio

Comprei em uma loja que demora a entregar e mandar o montador para ativar o móvel. 
Sabia que a loja era assim, mas vivo na idéia de dar segunda chance ao circulo de confiança, como prega o personagem de Robert De Niro, em Entrando Numa Fria. 
Comprei escrivaninha e uma simples cadeira. O vendedor prometeu que faria a montagem em dois dias, dez passaram e niente. 
Fui até a loja, pedi explicações ao gerente, que muito solícito, arauto das boas frases, me tranquilizou dizendo que verificaria, deu-me as costas. Como entendi que deveria fazer, segui-o. 
Entramos no escritório, e ele sem dar pela minha presença recomendou ao atendente: 
-Se livra dela, eu fora! Essa tal artista de plástica é uma chata! 
Achei graça na situação, graças por eu ser eu, e não ele, se bem que se fosse ele, também seria um eu. Divertido, mesmo que as peças continuassem dentro das caixas em minha casa, esperando o alumbramento...
Rede de confiança por ali...é porque não viram o filme. Ao encerrar este laboratório já estava escurecendo. Minha filha quando me vê chegar tarde em casa diz que estou virando uma paulistana. 
Abano o rabo; elogio! 
Chovera forte o dia todo, naquele momento mais que antes desandou um aguaceiro federal. 
Quase 20:00h e ônibus, nenhum! Mulheres com os olhos atormentados em cacoete consultavam os relógios. Informaram que sempre que chove é assim. Escolhi um lugar alto para morar e esqueci que não devia freqüentar os baixios quando chove. Anoiteceu. Sapo de outra lagoa, é preciso não errar, senão fico em pior situação que os locais que sabem o que vem depois. 
Culpava-me com os pés encharcados me debatendo  em dúvidas, arrependida pela compra, pela rota, quando, ao meu lado, emocinal e divertida uma voz quase gritando indagou a um senhor que havia parado no ponto há pouco: 
-Lúcio, é você mesmo? Lúcio, mas é você? Os dois se abraçavam embaixo da marquise. 
Abraçavam-se e se largavam para se encararem, buscando na segurança do afastamento acabar com a incredulidade que lhes pegava no meio do abraço. 
Eu via as mãos do que falava Lúcio-mas-não-acredito! As mãos dele davam tapinhas acalentadores nas costas do Lúcio, repetia: 
-Mas... há quanto tempo! Mais de vinte anos, não é? Vinte anos, Lúcio, nós ainda eramos uns meninos! Dois meninos Lúcio! Você aposentou-se, Lúcio?
Dentro da cúpula do passado mutuo relataram ali, naquele lusco fusco molhado o que fizeram nestes vinte anos de distância. 
O que fizeram é o que eu faço, e o que tu fazes, o que fazem as mulheres nervosas que naquela noite aguardavam o ônibus. Responder à vida. 
As mulheres e eu, assistíamos. Elas, com expressão de pássaros molhados sobre um fio quando giram a cabeça para observar uma vaca passando, mais pelo movimento do que pelo encanto. Eu, emocionada, querendo abraçar também.
Reencontros me comovem. O senhor que se chama Lúcio dizia ao que não se chama Lúcio, que morava ali perto do shopping. 
O que não se chama Lúcio, falou seu endereço ao outro. Mora na mesma rua que eu. Nem estávamos perto de casa e o gajo era meu vizinho?
Nem toda confirmação da física quântica justificava para mim, recém chegada na Babel e très assustada com a solidão acompanhada das ruas, um acaso assim. 
Se não fosse atrapalhar o reencontro, bem que eu teria entrado na conversa dos dois. Mas não dava para interromper a história deles, nem tanto por respeito, mais por ser boa demais. 
Nisso o ônibus chegou, que quando é para atrapalhar ele vem. Como era por isso que eu estava ali, assim que o motorista permitiu, entrei. O cobrador pediu licença para tomar água e etc.
Estava horrorizado com o trânsito: 
-Uma desgraça, duas horas para vir da Praça Ramos de Azevedo!
Passei meu cartãozinho magnético na roleta e sentei-me. 
Observava os dois amigos que agora se despediam. Minha garganta apertou, com o coração aos saltos, saltei do ônibus; agora ou nunca:
-Posso tirar uma foto de vocês? O Lúcio autorizou: 
-Se fosse rápido... 
Fotografei, agradeci e corri para meu lugar no ônibus  que já estava fechando as portas. Sentei-me ao lado de uma das mulheres que havia esperado comigo. Ela me olhava com cara de incredulidade agressiva. ...Códigos, infrigi um... Era pedaço da noite quando desci do ônibus perto de casa, assustada percebi que o senhor que não se chama Lúcio estivera no ônibus comigo e desceu no mesmo ponto. Caia uma chuvinha fina e eu dobrei a esquina, ele dobrou atrás. 
O quê? Arre, esconjuro! 
Ouvir alguém dizer que mora na mesma rua não implica em aceitar que seja verdade quando a poesia dos quilômetros de distância do endereço acabam e o desconhecido continua a caminhar quase ao seu lado.
Senti na carne o medo instintivo de fêmea que volta para a toca onde deixou filhotes e não quer denunciar a entrada do ninho. 
Inclusive, não era uma boa noite nada boa para morrer. 
Sem ver a escrivaninha montada, ainda menos! 
Era hora de fazer algo, parei e perguntei: 
-O senhor mora aqui, mesmo? Ele, com um bom tanto de resguardo:
-Moro logo ali!

-Logo ali? Onde?
-Ali para baixo. E a senhora, mora aonde, naqueles prédios?
-Não, numa casa mesmo.
-Ah, bom, então até logo!
-Até logo! Atravessou a rua e desapareceu na noite, dei um tempo e entrei em casa. 
Eu ia dizer que passaram-se mil e duzentos anos e a loja não veio montar os móveis, mas lembrando da reportagem da Bravo, sobre Glória Menezes, em que a entrevistadora diz que por a Glória ser gaúcha, tem mania de exagerar, vos digo: passaram-se alguns dias não vieram montar meus móveis. Liguei para o SAC e conversando com o atendente percebi que ele também queria a cabeça daquele gerente. Fiquei com pena do palhação. 
Decidi não reclamar nem à defesa do consumidor e nem contar para ninguém.
Vou aguardar até o meio da semana, se não vierem, reclamarei pessoalmente na loja. 
Quem sabe tenha sorte de ouvi-los inadvertidamente novamente, e possa fingir-me de ultrajada. 
Tenho tempo para decidir que estilo de roupa usarei para uma ocasião assim. 
Talvez um scarpin e um sobretudo sem nada por baixo...ah, não, assim será para outra ocasião.
escrevi em 2007, mas revisei e alterei hoje

“Até onde lembro, sempre considerei como função do poeta o lembrar, o não esquecer, 
o guardar em palavras o sofrimento, 
o invocar o passado através da evocação e a descrição cheia de amor. 
Mas devido à antiga tradição idealista também 
carrego algo da missão que tem o mestre, 
o censor e o predicador. 
Porém, sempre hei me deixado levar 
menos pelo sentido de ensinar e mais 
pelo sentido de exortar que se dê alma à vida. 
A reflexão não é investigação ou crítica. 
Somente amor. 
É o estado supremo e mais 
desejável da nossa alma: amor sem avidez.”
extraído de Hermann Hesse-Pequenas Alegrias



Clique aqui e no título, ou só em um destes para ouvir o que o Bee Gees canta por mim. 
É o que - embora meio disléxica quando insegura - é o que me resta: 
http://youtu.be/LWgJ8a4EwAI

17 abril 2010

Cabeça


Quando me ligou dizendo tenho uma má notícia, imediatamente lembrei do telefonema avisando que a exposição para a qual tanto trabalhei, zebrara. 
Ruim para mim. 
Más notícias? Ninguém deveria usar o telefone para dar más notícias. 
Campainha caborteira. Más notícias, diga! O que chamas de má notícia?
-O Cabeça faleceu! Agora há pouco...faleceu. Os filhos já foram avisados.

Os filhos já foram avisados, Cabeça morreu... 
Mas o Cabeça não corria risco de morte!

Ele aparecia de vez em quando como quem está passando e pára para tomar água, ou então festivo, para o aniversário das crianças, nunca traz presentes, mas é esperado com alegria por eles. Após as refeições lava a panela mais difícil, pois sabe que não gosto de lavar, só de cozinhar, observo-o calmamente esfregando a palha de aço enquanto sorridente conta coisas dos filhos que só conhecemos por fotos, pois moram no Urguay. 
Rememora como foi cuidar deles sozinho depois que se separou da esposa, como organizava a rotina de pai separado. Admiro-o pelo passado e pelos contos agradáveis. O Cabeça não pode ter morrido! 
E os filhos? Ele tem filhos que precisam dele, quem morreria numa circunstância destas? 
Foi pro Uruguay há pouco, pernoitou aqui...tem dois filhos, separado e pai devotado... 
O Cabeça é uma mãe! 
Como assim, tu estás falando que o Eduardo Sylva morreu?

O Cabeça apareceu em minha casa pela primeira vez há seis anos. Mudei-me de cidade três vezes desde que ele apareceu pela primeira vez para passar o final de semana.

Do nada, apareceu! Num sábado pela manhã meu ex-marido recebeu a ligação do colega do tempo do curso universitário de mais de trinta anos, que perguntava se podia vir para revê-lo. Estava trabalhando no Brasil em uma cidade próxima. 
Dalí ha algumas horas chegou com um pacote de erva-mate e o sorriso mal tratado.

      Não, o Cabeça não pode ter morrido.
Insólito, a culpa a me arranhar o pescoço. Na última vez que veio, senti preguiça de fazer o bolo de fubá que ele gostava...
Dizem que sim, repete Robert, confirmam nome e sobrenome. Morreu de ataque cardíaco, foi levado ao hospital, e tentaram em vão ressuscitá –lo.
No mês passado esteve aqui, chegou com sorriso novinho, emagrecido e um tanto melancólico, dizia estar arrependido de não ter vindo morar antes no Brasil. 
Estranhei, porque o Cabeça nunca antes mencionara arrependimento. Disse que estava preocupado com o filho mais velho, que demorava a amadurecer, orgulhoso com o mais novo que apesar da dificuldade no aprendizado, era persistente. 
Contou-nos que no final de semana anterior, na cidade mineira onde estava trabalhando conheceu uma mulher que lhe tocou profundamente. 
Pela primeira vez também, Cabeça mencionava apaixonamento, falava aberto e esperançoso, ia ver os filhos e quando voltasse, talvez...

Tomamos mate falamos sobre inexorabilidades, elogiou a casa, comentou os quadros. Orgulhoso contou que foi muito bem acolhido na cidadezinha onde estava trabalhando, pensava em fixar-se agora, talvez com uma esposa... sorriu. Comemos pizza e na manhã seguinte levei-o ao aeroporto.

A vida é um sopro.

Hoje pela manhã uma amiga virtual de anos, a Luzia, escreveu dando seu endereço e falando da importância de as pessoas se visitarem, cultivarem um jardim, momentos de convivência, pois disse ela:                            -A vida é um sopro!
Eduardo Sylva faleceu ontem, dia 26 de setembro de 2007, aos 53 anos de idade. Seu corpo será trasladado para Rivera, Uruguay, onde a família que lhe resta, uma prima e uma tia, moram.

Conhecer o outro, uma experiência que nunca termina - Clarice Lispector: http://www.youtube.com/watch?v=K-pbI4H6fn4

14 abril 2010

Era Uma Vez!

Na foto feita por Alexandra Barros, após ter recebido minha camiseta com alguns alguns dos contadores: da esquerdapara direita, Terezita & TobiasRubinsteinn, Tani, Norma, Lívia, eu, Maria do Rosário, Geny e Ita, na frente, Marlene e Malú Barros
Desde o segundo semestre do ano passado acompanho, estando em treinamento, o grupo de contadores de história Era Uma Vez, do CCJ, que é coordenado pela Terezita Rubinsteinn. Os voluntários narram estórias e contos nas instituições que acolhem crianças de rua, e em viadutos onde são desenvolvidos projetos com moradores de rua, tais como o projeto Nossa Rua, Nossa Casa. Apesar de eu já ter contado algumas histórias em casa abrigo e noViaduto do Glicério, hoje foi a primeira vez que narrei para os contadores. A reunião para minha prova de admissão foi no início da noite, e sob a supervisão da minha mentora Malú Barros, apresentei um conto de Luiz da Câmara Cascudo, A Velha Amorosa. Agora é oficial, sou uma contadora de história, e do Era Uma Vez! Escrevo vestindo a camiseta do grupo, e vou até dormir com ela... Afinal como no vídeo do link abaixo não foi tão difícl enfrentar o olhar dos experientes contadores, bastou largar a borda do trampolim.

Dinâmica de aquecimento para o grupo de contadores de história, na foto: na frente, Malu Barros e eu, depois, Eleonora Bottmann, Deluzy Trovato e Terezita Rubinsteinn. fotografadas por TobiasFaçeira - agora é oficial, sou contadora de história! Recebi minha camiseta das mãos de Terezita Rubinsteinn, a cordenadora do grupo de contação, Era Uma Vez, do CCJ.
fotografadas por Marlene
No link, Os medos do Mr. Bean:
http://www.youtube.com/watch?v=a4cmrMJul1g

10 abril 2010

Salão de Pinheiros

"Hors concours" no 22 Salão de Artes de Pinheiros. 
Óleo sobre tela que pintei com imagens da exposição na França. 
Sobre os pêssegos, o músico e presidente da Associação Brasil Sertão et Mer, Heitor de Pedra Azul e Chantal Choin, Secr. Cultura de Saint Julien, ao lado, seu cachorro Bummer, teu não, da Chantal. 
Sobre o queijo, o músico carioca Agenor de Oliveira, ao fundo, o lagarto artista companheiro de exposição, Yvan Jourdan. 
Em frente a escultura da Madonna de Chaource. Deitada, a escultura de Zizou, ao fundo, o batismo sobre a rolha do champanhe Marquis de Pomereuil.


Retrato de Ida Fengler, pintei em óleo sobre tela em 1998 - Ida é porcelanista, me ensinou a pintar os vidros que personalizei quando desenvolvi as fragrâncias Pitanga e Gengibre, sob orientação de Marly Schmit nos laboratórios da  In Art Parfum.  
O vaso que aparece ao seu lado de Ida é uma peça pintada por ela, foi premiado em um Salão de Artes em Gramado/RS. 
As flores que aparecem no arranjo do canto inferior, as estrelitzas, são cultivadas por ela em seu  hotel fazenda, o Jardim Europa, em Ijuí/RS. 


Para ver paisagens russas, clique no título da postagem.

Não Tenho Medo ll com David

Não Tenho Medo com David ll, óleo sobre tela
100x100cm, pintei em 2008- Pertence a Associação Comercial de Pinheiros


No link, Salve Regina:

http://www.youtube.com/watch?v=OB_7xyx6mhs



JORNAL ZERO HORA - Patrícia Spect


"Aos cinco anos de idade, Giane se sentia uma menina diferente em meio às crianças de Ijuí. 
Confeccionava as próprias bonecas, costumava observar a anatomia dos insetos e se lambuzava com experimentos para cozinhar o barro e esculpir bichinhos. A garota cresceu e foi parar num escritório, onde irritava o chefe desenhando no verso das notas fiscais. Definitivamente não era o seu chão. Aos vinte anos, casada, com um filho e longe do escritório, Giane despertou para a arte. Os trabalhos de Giane são releituras de obras conhecidas (outros nem tanto) e criações inéditas, um estilo que ela define como um misto de Surrealismo com Cubismo. Pelas mãos de Giane os anjinhos perdem o ar clássico e ganham outras formas, com explosões de luzes e cores. Cada santinho, além de ganhar uma releitura, também foi estudado por Giane. 
As obras de Giane podem ser vistas até o dia 30 de dezembro, no Shopping José Bonifácio." 

Do arquivo de publicações sobre meu trabalho, reportagem realizada por Patíricia Spect - Jornal Zero Hora, Porto Alegre, em dezembro de 1998.


Foto: Vista Lateral da Torre de Babel -coleção particular, pintei em 1997 em óleo sobre tela 160x110cm

09 abril 2010

CAPACITAÇÃO PARA EDUCADORES - GRUPO ERA UMA VEZ

Fundado há mais de 11 anos, o Grupo Era Uma Vez é formado por contadores de histórias voluntários que visitam instituições como creches, casas de apoio, grupos de idosos e associações de moradores com o objetivo de aproximar, valorizar e estimular as pessoas. A meta maior do grupo é levar, através do contar e ouvir histórias, a fantasia e o prazer tão necessários nos dias de hoje, especialmente para aqueles marginalizados dentro da estrutura social vigente. Regularmente, são realizados encontros de capacitação de seis horas, para educadores-multiplicadores, nas dependências do Centro da Cultura Judaica.Capacidade: 40 inscritos | Público-alvo: professores, educadores institucionais e do 3˚ setor.29 de maio das 13h00 às 19h00. As inscrições podem ser feitas pelo telefone 11 3065 4333 ramal 4145,de terça a domingo, das 13h30 às 18h30, ou pelo e- mail educadores@culturajudaica.org.br
Hine Matov - Dalida
http://www.youtube.com/watch?v=CDOLZCLvCpI

06 abril 2010

A Luz se chama KV Andante 467



http://www.youtube.com/watch?v=yKhD_LbU2XA
A música acima se chama k v andante 467, é de Wolfgang Amadeus Mozart. 
Tocou na Radio Repórter Fm de Ijuí. 
Fui até a cabine que ficava no centro do escritório e liguei para a rádio. 
O programador, o Selomar Filipim, informou o nome. 
Nunca esqueci. 
No dia em que prestei atenção nela eu estava com 14 anos 
Trabalhava em um escritório desde os 13 carimbando notas, também passava, transferindo com enormes folhas de gelatina para o livro oficial da empresa, as folhas de contabilidade que Avelino Seibel mimeografava e datilografava em um trator travestido de màquina datilográfica
Apanhava os filhos dos chefes na escola, levava dinheiro das filiais para a matriz, levava a blusa da colega para trocar, comprava café moído na hora no Bernardo Gressler, escolhendo as bolinhas para moer pela cor, quem moia era a Silvya, uma atendente que tinha olhos grandes e azuis e sorria bem meiga. 
No escritório eu ajudava a Sonia Storch a revisar números. Eu cantava e ela conferia, ela sabia que tinha que ser assim, pois quando eu ficava para conferir passando a régua abaixo do número que ela cantava eu perdia a concentração e cochilava. 
O tempo nunca podia sobrar, no arquivo eu organizava as pastas com notas, notas de entrada e de saída, blocos de notas, livros-caixas.
Mais raramente entregava recados e notas do escritório para fábrica.
No caminho interno e particular da empresa que ocupava vários quarteirões havia um canteiro de rosas grandes cor de rosa pálido. Sempre que me incumbiam desta tarefa, era na parada para apreciar os botões e o desenvolvimento daquelas formas e tons do canteiro do seu Bruno Scheffell que eu via o divino.
Na fábrica reinava um ruido permanente, igual ao da Avenida Brigadeiro Faria Lima.
Me perdia em desdobramentos esperando que o gerente preenchesse a papelada que eu teria que levar de volta ao escritório. 
Do mesanino, observando as moças da fábrica em suas máquinas, armazenei na memória o cheiro do couro e as formas engenhosas das máquinas da empresa, que no ano em que começei a trabalhar completara 76 anos.
Dia destes Zizí me presenteou com uma bolsinha que trouxe do Urugauy, que pretendo usar nas caminhadas, o cheiro do couro me ergueu pelo nariz e me levou de volta no tempo ao mesanino da fábrica, donde eu via as moças juntando os recortes e montando sapatos.
Só faltava os helicópteros para ser a Faria Lima, o resto...máquinas, vidros, cores, movimento mecânico... ordem incompreensível e muita luz, sem cessar, sem cessar, máquina quebrada, máquina substituida.
Só não havia churrasquinhos e shnaps vendidos em carrinhos, como na Faria.
Algumas vezes o modelista pediu meu pé, e eu me divertia no trabalho mais rico em estímulos do mundo, eu era também modelo de pé, e caminhava para eles observarem.
Semana passada estive na Secretaria de Cultura de São Paulo que fica próximo a Estação da Luz, para protocolar documentos e me cadastrar como artista habilitada pelo Pac. A Secretaria funciona em um prédio igual ao que trabalhei e tem uma escada em caracol com vão livre central, igual a que usava para subir para o escritório após registrar meu cartão ponto no meu primeiro trabalho, a escada que me dava pesadelos nos meus 14 anos.
Neste dia, quando fui à Secretaria, minha filha de 14 anos estava comigo, e por mais fértil que seja minha imaginação não consegui visualiza-la caminhando pelos corredores do prédio antigo a levar e trazer documentos. Queria sim, descer escorregando pelo corrimão da apavorante escada. E quando fomos a livraria da Sala São Paulo, ela estava longe de uma imagem que desfilaria em sapatos de salto alto, queria correr pelo salão.
Depois de vermos os cds e livros caríssimos do lugar, fomos ao Museu da Língua Portuguesa. 
Ao atravessarmos pela Estação da Luz, no saguão havia um menino com um sorvete em uma das mãos, enquanto com a outra dedilhava um piano. Nos aproximamos. Meu filho leu na lateral do instrumento: "Projeto piano de rua".
-Mami, é de rua. Será que dá para levar para casa?
O menino pingava sorvete e ia tóim tóim tlim, cavalgando no teclado, o avô o chamou e se foram. Meus filhos dedilharam um pouco, disputaram um pouco enquanto eu pensava, que pena que é tarde para aprenderem.
O verniz descascado, pés comidos e tampa ausente: “Toque-me, sou seu”
Os trens da estação estraçalhando metais e o tlim tlim do piano sonhando que estava em casa.
Projeto Toque-me, sou seu, do artista inglês Luke Jarram.
O piano na Estação da Luz, na saida do metrô, na entrada do metrô...Intermezzo & Spina.
Vamos, que vai chover e temos que conhecer o museu!
No museu, Machado de Assis sussurrava trechos em gravações, fotos e objetos presos pelas paredes, sua história suas estórias. Um universo.
Sorrindo de olhos divertidos, Joseph acionava a gravação da voz aveludada, grave e provocante recitando nomes de mulheres.
Aos 14 anos de curiosidade, Camille queria saber quanto, mas quanto haveria de custar uma gigante bobina de papel industrial, tão linda, mas tão branca e tão bonita, de sulfite brilhante e fino, como aquela exposta de forma tão apetitosa, para encher de palavras e desenhos.
-Quanto? Assim, mais ou menos, quanto tu calculas?
Huhum, então minha menina sente atração pela superfície do papel? Voltei aos meus quatroze anos e lembrei-me do dia em que encontraram as notas da empresa que eu devia guardar ordeiramente, e a maioria estava desenhada no verso, e como em uma avalanche, logo deram de cara com as folhas do livro oficial copiadas de pernas para cima...Na sala de touch screen do Museu da Língua Brasileira, Camille foi pesquisar em uma tela só dela, eu e Joseph dividimos uma, no menu que aparecia na tela ele tocava nas palavras das quais podia extrair sorrisos, queria saber o significado de bunda, soltava gargalhadas de admiração e uma voz informava qual era a origem, bafafá, borogodó...
Na tela gigante da parede, Regina Casé, imagem nossa, orgulho nosso, perguntava ao menino na favela:
- Se você for procurar emprego, vai dizer o quê para o patrão, diga ai, e oferecia-lhe o microfone, o patrão quer saber o que você sabe fazer melhor.
O menino olhou para o céu, pensou e respondeu:
- O que eu sei fazer melhor...eu sei empinar pipa.
E tudo termina naquela risada gostosa da Regina Casé, dando um catiripapo no piá, que ria a mais não poder com sua pipa na mão. 
Encontramos prazer nos vídeos e exposições e perdemos o horário para uma tal sessão de um magnífico filme que não admitia retardatários, sei lá, devia ser um filme a inglesa.
Rápido, rápido que se não formos embora agora, vamos pegar metrô lotado!
Na Estação da Luz, na sala do Toque-me que sou seu, havia um rapaz negro, baixo, vestindo terno preto, divinizando o piano de rua.
Um Will Smith paulistano de preto.
Em pé, na frente do teclado, de olhos fechados e irradiando ondas de atração, Akhenaton monopolizava os transeuntes, que estavam com pressa, estavam com pressa, mas ao se aproximarem, frouxavam o semblante e deixavam-se ficar.
La atrás os trens guinchando nos trilhos em freadas, na rua da frente o coral das buzinas que voltava para casa já iniciara. Camille me abraçou, Joseph se achegou e ficamos ouvindo a música do piano adocicado por sorvete, encantando a multidão.
Akhenaton e o piano de rua.
Quando terminou, Camille perguntou-lhe desde quando tocava, ele contou que começou a estudar há dois anos, que estuda todos os dias e aprende no Conservatório Villa Lobos.
Nos despedimos e entramos no buraco do metrô ao som de Imagine.
01/03/09
Nos links - Imagine
Um lindo presente recebido de uma amiga

05 abril 2010

Teodoro Sampaio é Curaçau Blue

Me refaço da surpresa do encontro com a tropicalidade de Teodoro Sampaio, adapto-me a vertigem de não ter certeza se estou no mesmo país em que vivia.
Teodoro não parece cidade, não parece bairro... fica no estado de São Paulo mas as aves do Mato Grosso fazem ninho nos telhados daqui. 
Indo até o pórtico da cidade dá para ver a fronteira com o estado do Paraná. 
Teodoro é isso e mais; é um pedaço do Ceará que parece estar por ali ao aldo, pois é com o seu sotaque arrastado que as pessoas falam.
Teodoro é uma deliciosa salada de frutas coberta com o requintado queijo Cottage e servida em uma brega taça azul de plástico. 
Se Teodoro fosse uma bebida, não seria um Vinho do Porto, seria um licor Curaçau Blue de laranja. 
Se a cidade tivesse que ser definida com uma palavra eu usaria - short. 
Se fosse um calçado, seria o tal sapatinho de cristal. 
Qualquer um pode experimentar mas não serve para todo mundo. 
Se fosse uma roupa, estaria no avesso. As costuras e emendas são o que vemos, ao olhar para ela pela primeira vez. 
O conforto e a beleza, o que ela pode oferecer, só quem ousa fixar-se, entrar nela, descobre. 
Na noite em que a conheci, pensei que errara o caminho e que estava em uma cidade balneário do sul. Eram 22:00h, e as pessoas estavam nas ruas... o ar cheio de músicas, bandos de meninas passeando, crianças de bicicletas, adultos nos bares, olhei em seus olhos e não vi medo. Mas ao perguntarmos: -Ó cidade praiana, cadê o mar? A malemolência do sotaque local responderá: -Tem mar, nãão! Tem o rio Paranapanema, que dá para ver daqui, mas tem mar, nãão. 
O centro da cidade é um pedaço que o povo usa plenamente. O estrangeiro é tratado com elegância e simpatia, no máximo seguido com um olhar blasé. Fácil de entender a naturalidade diante dos estranhos: a rua principal de Teodoro Sampaio é uma SP: uma estrada estadual que atravessa o centro. No seu sentido mais estreito, eu aviso. Senão tu podes vir e constatar que em cinco minutos passa de uma ponta a outra da cidade e ainda pode ser que diga: -Mas a Giane é louca! Teodoro não é uma cidade, é um instante, é um vapt-vupt! Eu ficaria magoada se alguém fizesse um comentário assim. Todos pensam que o sinônimo de bom é grande, mas basta saber que o Líbano é um país, e que no seu sentido mais estreito é possível atravessa-lo em meia hora. 
Logo, convém reiterar: a estrada SP, atravessa a cidade onde ela é mais estreita! 
Quando o teodoro-sampaiense quer ver a produção do Mato Grosso, ou do Paraná passar, vai a um dos bares da Avenida Cuiabá, das 14:00 às 20:00h. Neste horário o tráfego se intensifica e desfilam por ali caminhões boiadeiros, canavieiros, comboios de carreteiros, de cervejarias, indústrias alimentares, e máquinas, que parecem naves espaciais andando na terra, muita camionete com barco ou lancha à reboque, e em suas esquinas é possível encontrar os pescadores vendendo peixes recém tirado no rio Paranapanema ou no Paraná. 
Uma das peculiaridades da cidade é que embora seja pequena, a maioria de suas habitações é composta por confortáveis residências com muros de dois metros e meio de altura, idealizados e construídos pela mania por segurança dos engenheiros, técnicos e administradores paulistanos, que nos anos setenta vieram para construir a barragem de Taquaruçú. 
Depois de construírem a barragem, os que não viciaram no Curaçau Blue, e que pensaram que não sentiriam falta de acordar com a algazarra das maritacas, papagaios e araras, foram embora. As acomodações ficaram e a passarada também. 
Como o clima na maior parte do tempo oscila entre muito quente, e no alto verão, pavorosamente quente e abafado, sempre que alguém resolve montar uma casa, antes de qualquer outro item instala o condicionador de ar. 
As vestimentas são leves e curtas, o que não impede a mulherada de andar bamboleando em cima de saltos altos. 
Na rua principal encontra-se o que for preciso para estar na última moda, mas shopping, somente em Presidente Prudente, que é a maior cidade próxima, distando cem quilômetros de Teodoro. 
Como a maioria das pessoas leva uma vida aberta e exposta, desfrutando de bastante sol, todos são bronzeados e entre a maioria que é de típicos brasileiros, os bem misturados, ha também muitos negros e japoneses. Miscigenação. Esta a receita que deu o bom samba de São Paulo. 
Para colocar a cereja que finaliza a descrição desta Teodoro Sampaio, exótica cidade salada de frutas, recentemente foi reconhecido e legalizado o Parque Florestal do Morro do Diabo. 
Ontem, a cem quilômetros daqui uma onça pintada foi vista desfilando sua elasticidade em campo aberto. Teodoro Sampaio não se parece com outras cidades. É diferente, cheira diferente, é uma mistura dos filmes do Glauber Rocha com os faroestes italianos do Giuliano Gemma, e mais um dedinho ultra-moderno da ação do grupo de proteção ambiental em estilo Grenpeace. 
Todo mundo informatizado e antenado para o que for contemporâneo e completamente satisfeito de não viver o lado desagradável das grandes cidades.
I love Teodoro Sampaio!

“Às vezes, quando o sol queima tão quente e potente sobre meu corpo preguiçoso, 
me assaltam de repente umas vontades loucas de lançar agudos gritos de júbilo, 
rir e cantar. Graças a Deus, afinal tenho ar de novo, liberdade, sol e 
um vasto horizonte! Volto a perceber com todos os sentidos que ainda sou jovem 

e tenho forças para desfrutar do belo mundo e ama-lo.” 

Fonte: Pequenas Alegrias de
Hermann Hesse